Por uma semana a equipe da revista Caminhoneiro esteve num dos mais importantes eixos rodoviários do País colhendo opiniões sobre o cavalo-mecânico Mercedes-Benz Actros 2646 entre 42 caminhoneiros de variados segmentos, desde os graneleiros das exportações da soja cultivada no Sul e Centro Oeste; até os transportadores de carnes, toras, contêineres, refrigerados, carga seca, líquidos e combustíveis. As opiniões foram colhidas depois de um test drive de sete quilômetros em vários pontos da BR-277, que liga o Centro Oeste ao porto de Paranaguá, PR.
A conjuntura econômica e o aviltamento dos valores dos fretes têm levado os caminhoneiros a trabalhar cada vez mais para manter a mínima qualidade de vida. Hoje boa parte deles trabalha 12 horas por dia ou mais, esforço que para eles está longe do ideal, mas que garante o pagamento das dívidas no final do mês. Apesar disso, a quilometragem média mensal é de apenas 10 mil km, culpa da péssima condição das nossas estradas.
O maior problema enfrentado pelo caminhoneiro é a falta de conforto e isso foi constatado na única pergunta feita antes de o profissional fazer o test drive: nada menos que 62,9% apontaram a falta de conforto sem titubear. A falta de segurança vem em segundo com 17,1%, a falta de potência e torque alcança 11,4% e, surpreendentemente, o alto consumo de combustível vem apenas em quarto lugar com 8,6%.
Para o caminhoneiro José Daniel, de Castro, PR, que dirige um Volvo FH 12 com um semirreboque tanque para óleo refinado, não restam dúvidas que o nível de conforto da cabina é prioridade para qualquer motorista. “Para a maioria que roda 12 horas por dia, o conforto é fundamental”, diz Daniel, sem hesitar.
O paranaense não restringe a resposta ao conforto da cabina e vai aos mínimos detalhes citando o “seu” kit de comodidade: “É preciso não esquecer que para rodar até 1.500 quilômetros de percurso o equipamento deve oferecer cabina, suspensão e potência bastantes para que possamos dirigir com a tranquilidade.”
A qualidade do produto lhe chamou atenção durante o test drive. “Neste novo Actros 2646 o conforto só não é máximo porque deveria ter uma geladeira já na versão standard”, reivindica Daniel – o item é disponível como opcional pela marca Mercedes-Benz. De resto só elogios. Desde o banco, para ele excepcional, com suas multirregulagens de fácil calibragem até a suspensão de cabina avaliada como perfeita.
O motorista sugere que todos os caminhões deveriam ter colchão de primeira qualidade, pois eles sempre têm pouco tempo para dormir e precisam se recuperar rápido. “O fabricante está de parabéns e não se arrependerá – garante –, pois tenho certeza que a montadora que oferecer o máximo conforto em seus caminhões ganhará fácil 30% do mercado”, diz.
Para o caminhoneiro conforto é um conjunto de soluções disponíveis no caminhão. Robinson Gobel, 40 anos e 20 de profissão - pilota um Iveco Stralis 410 bitrem graneleiro por 12 mil quilômetros/mês das zonas de produção de grãos do Centro Oeste ao porto de Paranaguá, destaca uma delas: “Este é um caminhão muito quieto”, diz ele, surpreso com o silêncio que o Actros 2646 - rodoviário apresenta em marcha.
Gobel, natural de Ponta Grossa, chega a exagerar, levando em consideração suas longas jornadas de 3 mil km por viagem: “O silencio é tão grande que os vidros deveriam abrir sozinhos a cada meia hora”, sugere com bom humor, como meio de chamar atenção do motorista. Uma solução bem menos radical é a instalação de um sensor de faixa, disponível para o modelo, fica ele sabendo.
Thiago Vicente Panza Souza, de São Paulo, a bordo de seu semirreboque basculante Volvo NL 1992, 38 anos, confirma a sensação de Gobel:
“É uma maravilha, atualmente no final do dia eu apago com a cabeça girando de tanta barulheira”, garante.
“Neste (Actros) não, o silêncio dentro da cabine é total, mesmo rodando; o banco abraça a gente, a direção é firme e leve e a visibilidade é perfeita”, elogia. Mesmo instigado, Souza não achou um “defeitinho” no cavalo.
O motor OM 460 LA de 13 litros e 460 cv de potência e 234 mkgf de torque também fez bonito: “Pensei que o baú estava vazio”, foi a reação de quase 7,5% dos motoristas, ao saber que havia um lastro de 24 toneladas. “Ele vence as subidas sem usar rotação e segura muito bem nas descidas”, admira-se o autônomo Ciro Zampier, de Guarapuava, PR, 30 anos de estrada e proprietário de um FH 420 graneleiro de 2006.
Para uma maioria que ainda não dispõe de caixa automatizada, o Actros é quase o paraíso. Geraldo Ivachesqi, de Rio Azul, PR, que dirige um graneleiro MB 1935, ano 1994, o resultado de usar um veículo deste é a possibilidade de dobrar a produtividade: “Faria o dobro dos 10 mil km que faço normalmente”, aposta.
Ivachesqi observa que a melhoria no consumo de combustível vem junto com o conforto e o ambiente de trabalho. “Só pelo jeito dele andar, o ganho de velocidade média é muito grande, sem falar que descansado a gente reage muito mais rápido a qualquer perigo.”
Não ficar cansado de tanto bater marcha e o conforto da cabina são os pontos destacados também por Antonio Carlos, o Coca-Cola, 34 anos de profissão, 52 de Ponta Grossa e 12 mil km/mês na boleia de um MB 1944 graneleiro. “Com um caminhão deste rodaria 1.000 km e ainda teria fôlego para uma partidinha de futebol”, garante, cheio de graça. Para se ter ideia, numa viagem de 300 km especialistas garantem que um motorista de caminhão chega a cambiar 400 vezes.
Quem fez a vida em cima de um Mercedes-Benz foi o catarinense Alberto Emilio Pakes, 64 anos, de Itajaí, SC, que criou os filhos montado na boleia de um Mercedes-Benz 1941, ano 1992, e hoje roda 10 mil quilômetros por mês, todos eles ao lado de dona Terezinha, sua fiel navegadora e esposa.
“Essa é a nossa vida, uma delicia, sem pressa e com toda a segurança”, diz ele, deixando claro que não “pega” qualquer frete. Com os filhos criados e os netos já crescidinhos, o par faz fretes e turismo o tempo todo. Mas, o paraíso mesmo seria poder comprar um Actros 2646 igualzinho ao que dirigiu no test drive. Elogiando a tecnologia de primeira, que incorpora recursos de todos os jeitos, Alberto se vê fazendo suas viagens de 2 mil km a bordo do “verdão”.
“Daria para trabalhar ainda mais tranquilo, sem marchas para trocar e nem precisaria parar a cada 150 km para bater pneu e esticar as pernas”, diz ele de olho em dona Terezinha e um sorriso nos lábios. E não falta conhecimento ao seo Alberto, afinal já são mais de 45 anos de profissão.
Já dona Terezinha não se contém e elogia o conforto do banco pneumático, também oferecido ao acompanhante: “O banco é muito bom, parece uma poltrona de casa, mas a cama bem que poderia ser um pouquinho mais larga”, diz ela, atenta aos mínimos detalhes e querendo uma cama de casal só para eles.
Outro experiente caminhoneiro, Odilon Benetto, 51 anos de idade e 32 de batente em viagens de 1.200 km, transporta carga seca e também se encantou com o novo banco do Actros: “Não uso cinto de segurança, mas como me pediram eu o coloquei e não senti nenhum incômodo”, diz ele surpreso, sem prestar atenção que o cinto integrado ao banco não fica raspando o peito no sobe e desce constante do banco pneumático.
Não usar o cinto é uma autodefesa para muitos e uma maneira de não “queimar” o peito com o cinto raspando o tórax por horas, uma característica dos equipamentos de segurança ancorados na coluna da cabina. “Além disso, aquele apoio de coluna (lombar) é sensacional”, empolga-se Benetto. Ao volante de seu Iveco 2012, o caminhoneiro diz que a posição do banco junto com o torque, a direção justa e o sistema de freio com retarder deixam o Actros no ponto para uma viagem de baixo consumo, feita na ponta da bota. “Afinal, devemos pensar que deixamos 50% do frete no posto.”
“A posição de dirigir, o banco que abraça a gente e a direção leve e precisa, é tudo perfeito”, sintetiza Roberto Silva Osório, de Candeias, BA, 21 anos de profissão, hoje ao volante de um FH 12 460 na tração de um semirreboque tanque. Para ele, um cavalo que oferece conforto, torque, freios e é fácil de atrelar e desatrelar é o sonho de todo caminhoneiro.
“Esse caminhão tem tudo que procuro, conforto máximo e potência para subir e para descer”, resume Paulo Santos Souza, de Niterói, RJ, que pilota um Scania R 380, ano 2008, semirreboque sider. Com experiência bastante, 25 anos de seus 47, Souza faz 3 viagens de 4 mil quilômetros por mês e enxerga outras vantagens de um caminhão que oferece torque para vencer os morros e freios com retarder para segurar a composição na descida: a garantia de combinar segurança com velocidade média.
“Dispor de um banco deste, ar-condicionado e climatizador é a melhor coisa do mundo”, arremata o fluminense. Ele também elogiou a suspensão e a direção: “Os Mercedes eram duros, mas agora são macios mesmo na buraqueira e a direção responde muito bem.”
Sidnei de Miranda, de Garuva, SC, concorda integralmente. No comando de um bitrem basculante Volvo FH 440, ano 2007, ele destaca a caixa com escalonamento perfeito, “não há degrau algum” e a posição exata ao volante com o banco de multirregulagens e a suspensão que não transfere nenhuma trepidação. “A única coisa que poderia melhorar é o barulho muito alto do relé do pisca-pisca”, reivindica.
Natural de Irati, PR, Cristiano Alves Kuller, que guia um FH 380, ano 2004, com semirreboque porta contêiner, gostou muito do caminhão porque tem certeza que economizaria muito combustível: “Com canseira fica muito difícil fazer média, porque a dor nas pernas diminui nosso reflexo, um problema que acaba com o banco deste Mercedes, cuja regulagem permite que a gente estique as pernas para descansar nas longas viagens.”
Gilmar Firmino, de Foz do Iguaçu, PR, dirige um MAN TGX 440 de um ano, e diz que sua vida de caminhoneiro passou do inferno ao paraíso: “Comecei na profissão há 30 anos dirigindo um FNM de quatro eixos com marchas cruzadas e agora experimento essa máquina com câmbio automatizado de 10 marchas, acho que não preciso nem explicar, né?”
Quanto ao Actros 2646, Firmino não hesita: “É um caminhão sem defeito, tanto no conforto, na força do motor, na divisão de caixa perfeita e, além disso, acho que o apito alto do pisca é para chamar atenção da gente”, diz o motorista de 56 anos. “Todos os cavalos deveriam ser assim daqui para frente”, elogia.
Enfim, o que fica dessa nossa enquete é que a dificuldade que os motoristas tiveram para achar pontos fracos no Actros, mesmo instigados, é um sinal de que os pedidos dos caminhoneiros para ter melhores condições de trabalho têm sido ouvidos e atendidos. E a sua qualidade de vida está efetivamente melhorando
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