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Apocalipse logístico: como seria um mundo sem caminhoneiros?

Por Graziela Potenza em 09/01/2025 às 11:28
Apocalipse logístico: como seria um mundo sem caminhoneiros?

Na dependência das estradas, o Brasil move sua economia, abastece seus lares e mantém sua saúde. O caminhoneiro é a ponte entre a produção e a vida de milhões.

Já imaginou um mundo onde alimentos, remédios e bens essenciais não chegam ao seu destino? Essa pergunta pode parecer distante, mas a resposta está mais próxima do que imaginamos: seria o caos, um verdadeiro apocalipse logístico. No Brasil, mais de 65% de toda a carga transportada depende dos caminhoneiros, profissionais que enfrentam desafios diários para garantir que a vida siga funcionando. Sem eles, as prateleiras ficariam vazias, indústrias parariam suas produções, postos de gasolina ficariam sem combustível e hospitais sofreriam com a falta de insumos. Eles não apenas transportam mercadorias; eles movem o Brasil.

Durante a pandemia de COVID-19, o papel essencial dos caminhoneiros ficou ainda mais evidente. Enquanto muitos podiam trabalhar de casa, eles seguiram nas estradas, enfrentando riscos para garantir que alimentos, medicamentos e equipamentos chegassem onde eram necessários. No entanto, essa profissão vital ainda é frequentemente invisível para grande parte da sociedade, que raramente reflete sobre a importância desses heróis das estradas.

Roberto Paulo Antônio da Silva, motorista carreteiro há 35 anos, sendo seis anos na Bravo Serviços Logísticos como motorista carreteiro e masterdrive, afirma:

“Se os caminhoneiros parassem de trabalhar, o impacto na vida das pessoas e na economia seria imediato e profundo. O transporte rodoviário é o principal meio de distribuição de produtos no Brasil, responsável por levar alimentos, medicamentos, insumos agrícolas, combustíveis, entre muitos outros itens essenciais, de uma ponta a outra do país. A interrupção das atividades dos caminhoneiros significaria, em primeiro lugar, um desabastecimento generalizado. Produtos como arroz, feijão, frutas, verduras e outros alimentos que consumimos diariamente não estariam nos supermercados, o que poderia causar escassez e um aumento expressivo nos preços. Isso afetaria diretamente a população. Além disso, o impacto na cadeia de produção agrícola seria significativo. Por exemplo, sem o transporte de insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, a produção de grãos e outros alimentos ficaria comprometida, afetando as safras futuras. Sem o transporte rodoviário dos caminhoneiros, haveria desabastecimento de alimentos, falta de medicamentos, paralisação da indústria e deficiência de combustíveis, impactando diretamente o cotidiano das pessoas e a economia nacional.”

Alessandro Torquato Marinheiro, gerente de uma das filiais de Paulínia da Bravo Serviços Logísticos, também reflete sobre o assunto:

“Considerando que o modal rodoviário é responsável por mais de 65% das mercadorias produzidas e consumidas no Brasil, acredito que todos os setores seriam afetados. É só lembrarmos da greve dos caminhoneiros em 2018 - em pouco tempo, tivemos um desabastecimento generalizado em diversas regiões do país.”

Segundo Alessandro, “a Bravo não existiria sem os motoristas. Eles representam a empresa nas estradas e nas entregas - são os representantes de tudo aquilo que uma empresa de transportes oferece para seus clientes, como entregas no prazo, produtos sem avarias, etc.”

Na minha opinião, as dificuldades e desafios para que os caminhoneiros desempenhem suas funções adequadamente são: segurança nos transportes de cargas, más condições nas estradas, lugares de difícil acesso, vias com buracos, além de infraestruturas deficientes ou danificadas, diz Alessandro Torquato Marinheiro.

Coluna vertebral

O papel crucial dos caminhoneiros no Brasil se reflete não apenas no transporte de mercadorias, mas no funcionamento do país como um todo. Para entender melhor os desafios e impactos da profissão, conversamos com mais profissionais do setor.

Edson Amador, motorista experiente e dedicado, transporta caminhões novos há anos, sendo peça-chave na cadeia logística. Ele compartilha sua visão sobre a relevância do transporte rodoviário:

“Infelizmente, já tivemos alguns exemplos, em situações extremas, do caos que se instala no país quando nossa classe resolve parar. Sem caminhões, o Brasil para. Não tem jeito. Comida, roupa, combustíveis, medicamentos, matéria-prima, produtos manufaturados, enfim, tudo é transportado pelas estradas. Mesmo quando usam aviões, trens ou embarcações, em algum momento a mercadoria precisa de um caminhão para chegar ao destino final. O que posso dizer é que, sem o transporte por caminhões, o país simplesmente fica parado e caótico. Seria um desastre social.”

Quando questionado sobre quais problemas a sociedade enfrentaria no dia a dia sem o transporte rodoviário, Edson Amador, da SVD, respondeu: “Todos os problemas imagináveis: pessoas sofrendo com falta de medicamentos, hospitais desesperados por insumos, pessoas morrendo por falta de atendimento. Supermercados desabastecidos, revoltas generalizadas, falta de combustível, roupas, comida... até o lixo se acumularia nas ruas. Um caos completo.”

Para ampliar a visão, entrevistamos Sergio Pzichoz, diretor corporativo da SVD Transportes. Ele destaca como os caminhoneiros são vitais para a operação da empresa e o impacto de uma eventual paralisação:

“O impacto seria abrangente e severo, atingindo praticamente todos os setores da economia. A indústria enfrentaria paralisações rápidas devido à falta de insumos e matéria-prima. O setor agrícola sofreria grandes prejuízos com a impossibilidade de escoar a produção, levando a perdas bilionárias e desperdício de safras. Hospitais poderiam enfrentar colapsos pela falta de medicamentos e equipamentos. Supermercados ficariam desabastecidos, impactando diretamente o dia a dia da população. Além disso, setores essenciais como segurança pública e infraestrutura seriam prejudicados pela falta de combustível e suprimentos. O transporte rodoviário é o principal eixo logístico do Brasil, e sua interrupção causaria um efeito dominó com consequências econômicas e sociais profundas.”

Outro que seu papel é indispensável para a vida cotidiana e para a economia do Brasil é Wagner Gonçalves de Oliveira, motorista da TransJordano – Transporte de Combustíveis. Ele destaca que o impacto imediato da paralisação dos caminhoneiros seria "caos total".

"O Brasil se movimenta através do caminhão, se nós pararmos, tudo para. E tudo que a gente consome vem através do caminhão: combustível, alimento, tudo". Ele reforça que o transporte rodoviário é a base da logística nacional, sendo essencial para abastecer o país com itens indispensáveis, como alimentos e suprimentos hospitalares. "Os problemas seriam gerais e impactariam toda a nossa sociedade", afirma.

Wagner também recorda a greve geral dos caminhoneiros, quando já trabalhava como motorista de guincho. "Sem o abastecimento de combustível nos postos e com tudo e todos parados, não tinha como trabalhar. Fiquei em casa ocioso e as coisas começaram a faltar. O impacto é imediato e o prejuízo é para todos, porque se não tiver o caminhão para escoar as mercadorias e as safras, vamos perder tudo". Para ele, a profissão de caminhoneiro é essencial porque o mundo "não está preparado para viver sem caminhão".

Essa importância também é ressaltada por Joyce Bessa, head de estratégia e gestão da TransJordano. Questionada sobre os setores mais impactados caso o transporte rodoviário parasse, ela aponta os setores hospitalar e alimentício como os mais vulneráveis. "Suponhamos que você vá ao mercado à procura de verdura fresca, mas se o transporte para, você não a encontra. Nos hospitais, podemos ter como exemplo as viagens de insumos, medicamentos e equipamentos médicos realizadas durante a pandemia ou na greve dos caminhoneiros, que parou o país." Joyce destaca ainda que a escassez de combustíveis seria outro déficit facilmente percebido, já que os caminhões transportam não apenas mercadorias, mas o próprio combustível usado para abastecer outros veículos.

Sobre o papel dos caminhoneiros no sucesso da TransJordano, Joyce Bessa é enfática: "Aqui nós chamamos os motoristas de heróis das estradas, pois eles são essenciais para a nossa empresa, visto que sem eles, nós não funcionamos. Para demonstrar este reconhecimento, temos trabalhos internos e externos de enaltecimento que não ocorrem apenas em datas específicas como no Dia do Caminhoneiro, mas ocorrem de forma mensal. Em outubro, por exemplo, desenvolvemos um trabalho de valorização da saúde das operadoras mulheres, por conta do outubro rosa, e igualmente com os homens durante o novembro azul.” 

As dificuldades enfrentadas pelas transportadoras também são um ponto de atenção. Segundo Joyce Bessa, "A nossa maior dificuldade é com a gestão de pessoas, algo comum entre todas as empresas e que vai além dos motoristas. Hoje nós temos mais de 1000 colaboradores, então cotidianamente tentamos demonstrar nossa responsabilidade com eles. Para manter todos engajados com o nosso propósito, que é levar tranquilidade no abastecimento à sociedade de forma sustentável, realizamos atividades de conscientização sobre estas práticas. Temos como objetivo provar isso todos os dias e para isso é preciso semear isto diariamente para que as pessoas entendam que o papel da empresa é muito maior. Todavia, nossa legislação, para o motorista, sofreu algumas alterações ao longo dos anos e tem algumas coisas que não são próprias para a categoria e acabam os prejudicando. Em contrapartida, há outras que vieram para ajudar, como a obrigatoriedade do descanso a fim de evitar fadiga, algo que trabalhamos muito aqui internamente para oferecer uma qualidade de vida melhor para eles, que são tios e tias, pais, mães, filhos e filhas, consigam voltar para casa com segurança. Aqui trabalhamos olhando e cuidando um do outro. Outro diferencial nosso é como atraímos novas pessoas para serem motoristas. Tem muitos ubers que tem interesse em fazer parte da nossa equipe e trabalhamos diariamente na capacitação dos nossos profissionais.

Desafios da profissão

Além dos sacrifícios pessoais, os caminhoneiros enfrentam desafios estruturais. As rodovias brasileiras, muitas vezes mal conservadas, aumentam os custos de manutenção dos veículos e os riscos de acidentes. Buracos, ausência de acostamentos e falta de locais adequados para descanso tornam as jornadas mais perigosas e exaustivas. O preço do diesel, que representa uma das maiores despesas, continua subindo, enquanto o valor do frete raramente cobre os custos adequados. Sem incentivos governamentais ou políticas de apoio, muitos caminhoneiros operam no limite financeiro.

A insegurança nas estradas é outro ponto crítico. Roubos de carga são frequentes, colocando em risco não apenas o sustento, mas também a vida desses profissionais. Além disso, a falta de pontos de apoio e infraestrutura em locais remotos faz com que o descanso e a manutenção dos veículos sejam prejudicados, impactando diretamente a segurança.

Há também o desafio da competitividade no mercado: motoristas autônomos, que enfrentam custos altos e renda instável, muitas vezes precisam concorrer com grandes transportadoras, que possuem mais recursos e vantagens fiscais. Apesar disso, eles seguem em frente, movidos pela responsabilidade de manter o Brasil funcionando.

Uma reflexão necessária

É impossível imaginar o Brasil sem caminhoneiros. Esses profissionais movem mais do que mercadorias; eles movem sonhos, vidas e o futuro de milhões de brasileiros.

No entanto, ainda há muito a ser feito para valorizar essa profissão tão essencial. É urgente a implementação de políticas públicas que garantam melhores condições de trabalho, como estradas seguras e pavimentadas, além de áreas de apoio equipadas e acessíveis para os motoristas. O ajuste nas tarifas de frete, alinhado aos custos reais da operação, é fundamental para assegurar a sustentabilidade da profissão.

Além disso, incentivos como isenção tributária em peças e combustíveis poderiam aliviar o peso financeiro, permitindo que os caminhoneiros mantenham seus veículos em bom estado e operem com maior eficiência. Programas de capacitação, tanto para motoristas autônomos quanto para profissionais de transportadoras, também são indispensáveis para preparar as novas gerações e valorizar a mão de obra qualificada.

Por fim, é necessário que a sociedade reconheça a importância desses trabalhadores para o funcionamento do país. Na próxima vez que você abastecer seu carro, abrir a geladeira ou comprar um remédio, lembre-se do caminhoneiro que possibilitou isso. Sem eles, o Brasil para. Mais do que uma frase, essa é uma realidade que merece ser reconhecida e valorizada. Afinal, eles não apenas transportam cargas; eles movem o Brasil.

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