A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou os dados da produção e do licenciamento de caminhões no Brasil, revelando um cenário de crescimento moderado, mas com importantes sinais de alerta para o setor.
Em março de 2025, foram produzidos 11,7 mil caminhões, um aumento de 4,4% em relação a março de 2024. No entanto, o número representa uma ligeira queda de 2,1% frente a fevereiro deste ano. Já no acumulado do primeiro trimestre, as montadoras instaladas no país produziram 31,7 mil unidades, frente a 29,3 mil no mesmo período de 2024 — um avanço de 8,2%.
Os emplacamentos totalizaram 9,4 mil unidades em março, queda de 5,2% em relação a março de 2024, quando foram registradas 9,9 mil unidades. Contudo, o setor apresentou um aumento de 4,5% em relação a fevereiro. No acumulado do trimestre, a alta foi de 4,8% frente ao mesmo período do ano anterior.
O presidente executivo indicado da Anfavea, Igor Calvet, destacou que o mercado de caminhões, no geral, apresentou quase 5% de crescimento nos emplacamentos. Porém, o segmento de caminhões pesados, que são essenciais para o transporte de longa distância e o escoamento da produção nacional, apresentou queda de 7% no trimestre comparado ao mesmo período de 2024.
"Isso nos acende, obviamente, uma luz amarela — talvez até vermelha — para o final do ano. Mas aqui é importante, talvez, refletir sobre quais foram as razões que levaram a esse decréscimo. A previsão é de uma safra recorde, alguns até dizem 'super safra', mas isso não tem se refletido no segmento de vendas de caminhões — e talvez nem no de máquinas agrícolas. Há uma tendência, pelo menos no agro, de maior endividamento. Estamos percebendo, em alguns dos nossos associados, um aumento da inadimplência também. Mas isso não é generalizado — ainda há uma tendência de estabilidade na inadimplência. Além disso, o preço das commodities se mantém baixo ou estável. Esse conjunto de fatores, aliado ao que talvez seja o ponto mais importante — a alta dos juros —, tem impacto direto nesse segmento específico de veículos pesados. A alta taxa de juros, somada a esse cenário bastante conturbado e inseguro no mundo, inclusive com o que março nos trouxe sobre as tarifas do Trump, faz com que, muitas vezes, nesse segmento, haja uma postergação dos investimentos", explicou Calvet.
Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, também alertou sobre os riscos decorrentes da nova dinâmica entre EUA, México e Brasil. Apesar de o Brasil ter conseguido negociar a menor tarifa sobre seus produtos exportados aos EUA, o cenário ainda impõe desafios estratégicos:
“Pode haver deslocamento de produção para o México, que possui 37 fábricas de veículos e mais de 1.000 de autopeças. Com o aumento de investimentos em solo americano, a capacidade ociosa mexicana pode ser usada para atender outros mercados, como o Brasil, que possui acordo de livre comércio com o país”, comentou.
Segundo ele, isso afeta tanto o setor de veículos quanto o de autopeças. Como muitas empresas têm operações nos três países, a tendência é evitar investir em regiões onde haja sobreposição de capacidade produtiva.
Durante coletiva, o presidente da Anfavea também expressou preocupação com atrasos na regulamentação do Programa MOVER, voltado para inovação e sustentabilidade no setor. Além disso, alertou sobre o esgotamento dos recursos de P&D e a demora na recomposição da alíquota de 35% de imposto de importação para veículos eletrificados.
Outro ponto de tensão é o pedido de montadoras chinesas para redução de impostos sobre a produção local em regimes CKD e SKD, o que, segundo Leite, representaria um risco severo aos fabricantes nacionais, seus empregos e investimentos.
“Esses impasses podem comprometer parte dos investimentos anunciados, sobretudo num momento de tensão global. A cadeia automotiva brasileira é longa e complexa, e decisões como essas têm reflexos profundos em toda a estrutura produtiva nacional”, concluiu Márcio de Lima Leite.
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