A urgência das mudanças climáticas vem encorajando provedores de mobilidade no mundo a pensarem com mais profundidade e abrangência sobre as soluções que podem oferecer à sociedade, principalmente o tipo de energia que move milhões de veículos particulares e coletivos todos os dias.
A alternativa mais conhecida a veículos de combustão são os BEV (Veículo Elétrico a Bateria). No entanto, há 3 soluções promissoras quando o assunto é combustível que estão em vários estágios de desenvolvimento e merecem ser acompanhadas mais de perto: Hidrogênio, Bioetanol e E-fuel. Para conhecer mais sobre essas possibilidades para o futuro da mobilidade, a LeasePlan | ALD Automotive, líder global em mobilidade sustentável que oferece serviços de locação, terceirização e gerenciamento de frotas, fala mais detalhadamente de cada uma, incluindo vantagens e desafios. Confira a seguir:
A primeira coisa a se notar sobre o hidrogênio é que ele não é uma fonte primária de energia em si. Ele demanda energia elétrica ou de gás para sua produção e, só então, passa a ser um insumo viável.
Na verdade, 95% de todo hidrogênio produzido para esse fim é dependente de combustíveis fósseis. Embora existam projetos que utilizam “hidrogênio verde”, o setor ainda dá seus primeiros passos nesse sentido.
Sua maior utilização até o momento tem sido em indústrias químicas e refinarias. É o melhor cenário de adaptação ao que o hidrogênio tem tanto de ponto forte quanto de limitação: ele precisa ser usado próximo de onde é produzido.
A logística de transporte e armazenamento do combustível é complexa, pois exige controles precisos de pressão e baixa temperatura. Cadeias de distribuição se tornam um desafio. É calculado que até 30% do hidrogênio produzido vaze durante sua movimentação, gerando um alto índice de desperdício.
Esse é um dos motivos que faz com que a tecnologia ainda seja muito imatura para uso automotivo. A oferta de veículos conhecidos como FECV (Veículos Elétricos a Células de Combustível) é limitada e sofre com baixa eficiência energética e pouca infraestrutura de abastecimento. A França, por exemplo, espera passar dos mil postos com essa oferta em 2030.
Ainda assim, as notícias não são só negativas. Alguns bons projetos locais estão sendo desenvolvidos em países como a Bélgica, que já conta com leis de incentivo a produção e transporte. Em 13 de fevereiro de 2023, a União Europeia ajustou sua diretiva de energia renovável para incluir especificamente o combustível, em conjunto com a autorização de investimento público de até 5,4 bilhões de Euros para o desenvolvimento de hidrogênio verde.
Para a Comissão Europeia, “no transporte, o hidrogênio é uma opção promissora em locais onde a eletrificação é mais difícil”.
Nós, brasileiros, já estamos bastante familiarizados com o uso de etanol no transporte veicular, mas não somos apenas nós. O bioetanol é o biocombustível mais utilizado no mundo, produzido de materiais orgânicos como cana, milho e até beterraba.
Apesar de ser bastante produzido no Brasil e nos EUA, a Europa ainda é muito deficiente na disponibilidade desse tipo de insumo. Apenas a França hoje possui uma oferta consistente.
Isso está mudando com a inclusão do biofuel como transição no projeto europeu de banimento dos veículos a combustão a partir de 2035. A revisão vem de um estudo do instituto energético francês, que mostra que os veículos flex não emitem mais CO2 do que carros elétricos equivalentes, considerando o consumo direto e indireto em seu ciclo de vida.
Nesse sentido, o Brasil é visto como um caso de sucesso no mundo inteiro. Enquanto em outros países a oferta de veículos é bastante limitada, 83% dos registros de carro zero no Brasil em 2022 foram de modelos flex.
No entanto, embora seja considerada uma alternativa mais sustentável em relação ao petróleo, a exploração de recursos agrícolas e métodos de produção ainda é um desafio. Envolvem queimadas, uso massivo de fertilizantes, consumo de água e ocupação de solo que poderia ser aproveitado para outros fins.
O Brasil também é referência na busca por reduzir esses impactos, tornando o bioetanol uma alternativa ainda promissora para o futuro.
O e-fuel, ou combustível eletrônico, é uma alternativa inovadora e muito recente: foi produzida pela primeira vez em dezembro de 2022 no Chile, misturando hidrogênio verde e dióxido de carbono.
O primeiro elemento é obtido a partir da água em um processo de eletrólise (quando as moléculas de H2O são separadas). A eletricidade para o processo vem de turbinas eólicas e o CO2 é capturado por filtragem do ambiente.
O e-fuel é líquido e pode potencialmente ser utilizado em veículos a combustão. Porsche e Siemens, coprodutoras do projeto, esperam produzir 550 milhões de litros até 2027.
Embora uma alternativa promissora — por não ser tão disruptiva do modelo atual de distribuição de combustível e construção de carros —, ainda existem questões a serem trabalhadas para seu uso comercial.
A principal delas é o valor proibitivo. Em seu estado atual de desenvolvimento, estima-se que o preço do litro ultrapassaria os R$10 mil! Seria necessário escalar consideravelmente a infraestrutura de produção para que o custo fosse razoável.
Outro obstáculo é que estudos demonstram que veículos abastecidos com e-fuel emitem mais monóxido de carbono e amônia que modelos tradicionais. Além disso, os carros elétricos têm uma vantagem ainda maior em sustentabilidade, gerando 40% menos CO2 que um veículo a combustão utilizando e-fuel.
Ainda assim, é uma tecnologia em seu início que pode representar o equilíbrio a curto prazo entre combustíveis fósseis e carros elétricos. É o que pensam países como a Alemanha, que pretende não assinar o banimento de carros a combustão na União Europeia se o e-fuel não for permitido nesse momento de transição.
Existem várias novas opções interessantes surgindo no mercado em relação à eletrificação da frota mundial. O papel de quem trabalha no setor e até dos consumidores é ter uma mente aberta e abraçar as possibilidades que as tendências apontam.
Enquanto a eletrificação ainda tem seus desafios, carros elétricos continuam a ser as soluções mais viáveis no momento, graças ao investimento significativo e o comprometimento de empresas nos últimos anos.
No entanto, não existe ainda uma resposta ideal para todas as questões de sustentabilidade, que segue sendo o foco da pesquisa no setor em todas suas alternativas. Vamos continuar explorando e avaliando opções, tendo em mente que o objetivo é criar um futuro mais sustentável para todos.
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Foto: divulgação
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