Fábio Nelson Fernandes, delegado Divisionário da Divisão Antissequestro de São Paulo, fala sobre o trabalho dedicado e intenso que toda a equipe vem realizando para proteger os caminhoneiros.
Revista Caminhoneiro - Nós estamos vivendo nesse momento sequestros de caminhoneiros?
Fábio Nelson Fernandes - Sim, infelizmente estamos enfrentando um fenômeno criminal que afeta os caminhoneiros, especialmente na hora de pegar um frete. Os motoristas profissionais, ao tentarem assegurar uma carga para não voltar de mãos vazias de uma entrega ou simplesmente buscando um novo frete, utilizam aplicativos de carga sem imaginar que podem cair em um golpe, o chamado frete falso. Criminosos têm criado perfis falsos de empresas nesses aplicativos e, ao combinarem o serviço, atraem os caminhoneiros para locais onde são sequestrados e levados para cativeiros, com o objetivo de roubar o caminhão e o dinheiro da conta do motorista. Em São Paulo, por exemplo, temos registrado casos em que caminhoneiros se dirigem a Guarulhos, uma área com muitas transportadoras, esperando encontrar uma empresa legítima, mas acabam sendo abordados por criminosos e levados para cativeiros.
Revista Caminhoneiro - Como é a situação do caminhoneiro que se encontra em um cativeiro?
Fábio Nelson Fernandes - É uma situação extremamente difícil e angustiante. Os criminosos mantêm a vítima no cativeiro para garantir a subtração do caminhão e da carga. Observamos, por exemplo, que após o roubo, os caminhões muitas vezes são levados para fora do Brasil, passando por rotas como Mato Grosso, Ponta Porã e indo até o Paraguai. Durante o cativeiro, que pode durar de dois a três dias, o caminhoneiro enfrenta muita pressão e, em alguns casos, até agressões. Como os caminhoneiros costumam viajar por longos períodos e passar dias fora de casa, às vezes é difícil para a família perceber rapidamente que ele está em uma situação de risco. Durante esse período, a família pode receber mensagens de resgate ou notar movimentações financeiras atípicas na conta bancária da vítima, indicando que os criminosos estão tentando extorquir dinheiro.
Revista Caminhoneiro - Qual é o papel principal da Divisão Antissequestro em relação aos crimes que envolvem caminhoneiros?
Fábio Nelson Fernandes - O papel da Divisão Antissequestro em relação aos crimes que envolvem caminhoneiros é garantir a segurança desses profissionais e combater as organizações criminosas que atuam nessa modalidade de crime. Nossa divisão atua de forma estratégica, investigando, prevenindo e reprimindo sequestros que afetam caminhoneiros e também outras pessoas da sociedade. Estamos preparados para agir rapidamente em casos de sequestro aqui em São Paulo. O sequestro é um crime bárbaro que atinge a vítima e todo seu núcleo familiar. Além disso, trabalhamos em estreita colaboração com outras unidades policiais e órgãos de segurança pública para desarticular quadrilhas especializadas, promovendo operações integradas e utilizando inteligência policial. Oferecemos apoio integral às vítimas e suas famílias, visando não apenas a resolução dos casos, mas também a prevenção de novos incidentes através de patrulhamento ostensivo, monitoramento de áreas críticas e campanhas de conscientização sobre medidas de segurança para os caminhoneiros. Nossa missão é proporcionar um ambiente seguro para que esses trabalhadores possam desempenhar suas funções sem o temor de serem alvos de criminosos.
Revista Caminhoneiro - A forma como a vítima é atraída no caso de sequestros de caminhoneiros se assemelha ao 'Golpe do Amor' que também utiliza aplicativos?
Fábio Nelson Fernandes - É verdade, Grazi. O famoso 'Golpe do Amor' é um crime que começa pela internet, principalmente em aplicativos de relacionamento. O indivíduo acredita que vai se encontrar com uma moça e, ao chegar no local, encontra os sequestradores. Em 2022, houve uma explosão desse tipo de golpe. Em 2023, começamos a observar uma diminuição, e até agora, neste ano, tivemos apenas dois casos. A Divisão Antissequestro agiu fortemente, prendendo e desarticulando boa parte dessas quadrilhas. Atualmente, estamos bastante atuantes também em relação aos sequestros de caminhoneiros e estamos desarticulando essas organizações criminosas. Da mesma forma que fizemos com o 'Golpe do Amor', pretendemos trazer tranquilidade para esses trabalhadores quando estiverem realizando suas operações aqui em São Paulo.
Revista Caminhoneiro - Doutor, quais dicas que poderia dar aos nossos seguidores para evitar cair nesses golpes?
Fábio Nelson Fernandes - Estamos recomendando que os caminhoneiros, ao utilizar aplicativos ou plataformas semelhantes, especialmente quando não conhecem a pessoa ou a empresa, tomem algumas precauções. Primeiro, ao iniciar a negociação, vejam se a oferta é realmente interessante para eles. Quando obtiverem o nome da empresa, façam uma pesquisa completa no Google sobre ela. Verifiquem os telefones fora do canal contratante e liguem diretamente para a empresa para confirmar se a contratação é verdadeira. Infelizmente, existem transportadoras falsas nesses aplicativos de fretes. Com essa precaução e a atitude de questionar: 'Será que essa empresa realmente está me contratando?', os caminhoneiros podem evitar cair nesse golpe e em sequestros, que são extremamente graves.
Revista Caminhoneiro - Em São Paulo, quando começou a ocorrer o crime do falso frete?
Fábio Nelson Fernandes - Em 2021, começamos a ver algumas ações isoladas desse tipo de crime. Naquela ocasião, conseguimos desarticular a organização criminosa responsável. O líder, que estava preso na penitenciária de Dourado, conseguia coordenar a operação de lá. Recentemente, no final do ano passado até agora, identificamos casos semelhantes aos de 2021. Normalmente, os caminhoneiros são atraídos para Guarulhos, onde são sequestrados. A Divisão Antissequestro iniciou uma rigorosa investigação no início deste ano e prendeu cerca de 10 criminosos que estavam atraindo motoristas profissionais, mantendo-os em cativeiro e realizando movimentações financeiras ilegais. Estamos monitorando o impacto dessas prisões na organização criminosa e já observamos uma redução desse tipo de ação. Não pretendemos parar por aí e nossas equipes continuam trabalhando com afinco para combater completamente esses crimes aqui em São Paulo.
Revista Caminhoneiro - Nas outras regiões do Brasil também têm acontecido sequestros de caminhoneiros?
Fábio Nelson Fernandes - Na realidade, esse tipo de crime tem se tornado interestadual devido aos avanços tecnológicos. Por exemplo, um caminhoneiro pode sair de Goiás com destino a São Paulo, e a negociação do trabalho foi feita por uma empresa localizada no Rio Grande do Sul. Observamos que caminhoneiros de todo o país têm sido vítimas. Esse fenômeno também ocorre, eventualmente, em outros estados. Os próprios sindicatos de caminhoneiros e transportadoras apoiam nossas ações e demonstram que estamos no caminho certo. Por isso, é muito importante a ação conjunta da divisão antissequestro, das polícias Civil e Militar, entre outras. Temos que trabalhar integrados para obter bons resultados.
Revista Caminhoneiro - Doutor, como o caminhoneiro que está em cativeiro reage quando percebe que vocês vieram salvá-lo?
Fábio Nelson Fernandes - A reação é algo que, para nós, na Divisão Antissequestro, é sempre emocionante. Estou há 24 anos nessa área e não há nada que se compare à emoção de trazer uma vítima de volta para casa. Essa sensação é indescritível. Quando encontramos uma vítima de sequestro, percebemos uma imensa emoção, um misto de alívio e desespero. O alívio de ver os agentes policiais ali para resgatá-los e o desespero que ainda paira até estarem totalmente seguros. Para mim, não há atividade mais emocionante dentro das forças policiais do país. Sou apaixonado pelo meu trabalho e pela Divisão Antissequestro. Nossa equipe é bem treinada e trabalha com uma paixão enorme, fazendo de tudo para trazer uma vítima de volta ao convívio de sua família.
Revista Caminhoneiro - Como a equipe da divisão antissequestro se prepara para lidar com essas situações tão desafiadoras? Quais tipos de treinamento são realizados?
Fábio Nelson Fernandes - Nossa equipe é extremamente bem treinada e especializada. Passamos por treinamentos contínuos que abrangem desde técnicas de investigação minuciosa até operações táticas para prender os criminosos e libertar as vítimas. Um aspecto crucial do nosso treinamento é o acolhimento familiar, onde aprendemos a lidar com as emoções e necessidades das famílias durante todo o processo. Trabalhamos com tanto empenho que, ao final de cada operação, as vítimas se tornam nossas amigas. Esse vínculo é resultado da dedicação e paixão que temos pelo nosso trabalho, e é isso que nos motiva.
Revista Caminhoneiro - Doutor, o que a população em geral pode fazer para ajudar na prevenção de sequestros?
Fábio Nelson Fernandes - A população tem um papel crucial na prevenção de sequestros. Primeiramente, é essencial que qualquer pessoa que testemunhe um sequestro ou uma situação suspeita entre em contato imediatamente com a polícia. A rapidez na comunicação pode fazer toda a diferença. Além disso, é importante que todos fiquem atentos ao ambiente ao seu redor e adotem medidas de segurança, como evitar rotinas previsíveis e estar sempre vigilante em áreas de risco. Informar-se sobre práticas de segurança e participar de campanhas de conscientização também são formas eficazes de contribuir para a prevenção. A colaboração entre a comunidade e as forças de segurança é fundamental para criar um ambiente mais seguro para todos.
Revista Caminhoneiro - Como o senhor vê o futuro da segurança para caminhoneiros no Brasil?
Fábio Nelson Fernandes - Eu vejo o futuro da segurança para caminhoneiros no Brasil com muita prosperidade. Estamos trabalhando arduamente para combater crimes específicos, como o golpe do frete, e já estamos vendo resultados positivos. A categoria dos caminhoneiros é vital para o movimento econômico do país; sem eles, o Brasil simplesmente não funciona. Cada caminhoneiro deve saber o quanto é importante para o país, e nosso objetivo é garantir que possam realizar seu trabalho com tranquilidade e segurança. A colaboração entre os caminhoneiros, as empresas de transporte e as forças de segurança está se fortalecendo, o que nos permite responder de maneira mais eficaz e rápida às ameaças. Nosso compromisso é criar um ambiente onde os caminhoneiros possam trabalhar sem medo, sabendo que têm o apoio e a proteção de uma estrutura de segurança dedicada e eficiente. A importância do trabalho deles é reconhecida, e estamos aqui para garantir que possam continuar a contribuir para o desenvolvimento do Brasil de forma segura e protegida.
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