Mais do que a paixão pelos caminhões, o caminhoneiro gosta mesmo é de estar com sua família. Quando pode juntar os dois, a alegria é completa e ele vira criança.
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Esse foi o espírito do 9º Encontro dos Amigos do Charada, realizado no dia 22 de maio, em Barueri, SP. “A ideia é proporcionar um momento de lazer para os caminhoneiros, com total segurança e entre amigos”, explica Júlio César Petrassi, o Charada, que organiza o evento desde 2012. “Além disso, unir diversos segmentos do transporte em uma mesma área com seus familiares, amigos e apaixonados por caminhões”.
Durante todo o dia, mais de 500 caminhões passaram pelo local, sendo 350 estáticos. O clima era realmente de uma grande família com crianças, esposas e amigos passando pelos caminhões, cada um mais bonito e bem cuidado que o outro, vendo alguns modelos exclusivos como o Mack, 68, ou o International importado dos Estados Unidos.
Nova geração
Se caminhoneiro tem óleo diesel nas veias, ele é colocado bem cedo. E isso ficou fácil de perceber na quantidade de crianças que estavam presentes no Encontro, e que, para o desespero dos pais, insistiam em subir, mexer, olhar e se esconder em cada um dos caminhões.
Ítalo Cândido de Araújo, de 21 anos, que dirige caminhão desde os 13, mas profissionalmente há três, apesar de ser jovem, já tem sob sua responsabilidade uma criança de dois anos que leva para onde vai. “Eu dirijo um Mercedes 1513, caçamba, do meu pai, transportando pedra, areia e entulho”, explica Araújo. “Venho nesse tipo de evento porque gosto de caminhão, dos caminhoneiros, do ambiente. Está no sangue”.
O filho no colo do pai olha um caminhão grande e tenta imitar o barulho do motor. “Em toda festa que a gente vai eu o levo e ele gosta muito. Fica imitando o barulho do motor do caminhão com a boca”.
Perguntado qual seria sua reação se o filho decidir seguir a profissão de caminhoneiro, Araújo responde de bate pronto enchendo o peito de orgulho. “Terá meu total apoio com muita satisfação”, explica. “Eu sou caminhoneiro, meu pai é caminhoneiro, meu avô era caminhoneiro, meus tios, primos, todos os caminhoneiros. Será uma honra”.
Caminhões diferentes. Este é o alvo de Jorge Henrique Marques de Sousa, de 28 anos e caminhoneiro há 2,5. Com filho Kauan, de 3 anos no colo, e a mulher ao lado, Sousa fica encantado com os caminhões do Encontro. “Gosto muito de caminhões e o meu filho também”, diz Sousa. “Eu era motoboy e agora passei a ser caminhoneiro. Trabalho com caminhão trucado, transportando remédios”.
Ele gosta de ver os caminhões tunados, pintados de modo diferente e com acessórios. Para quem trabalha com um veículo com baú fechado, com porta-cofre, rastreado e com escolta armada, algumas horas de lazer ao lado da esposa e do filho vendo caminhões diferenciados é uma grande alegria.
Um dos modelos mais apreciados no Encontro foi o Mack D81, de 1967. Encontrado em “estado terminal” por Jurandy de Souza, recebeu vida nova. “Foram cinco anos de pesquisa e procura de peças que não existem no Brasil”, explica Sousa, de 66 anos que aluga máquinas de terraplanagem. “Encontrei esse caminhão em Pouso Alegre, MG, todo desmontado e acabado. Achei a maioria das peças nos Estados Unidos. A borracha do para-brisa tinha sido substituída por uma borracha de ônibus. As capelinhas do teto também são importadas”.
O cuidado e dedicação chegaram ao nível de Sousa importar até os parafusos da porta, que vêm com porcas autotravantes. As únicas peças boas no caminhão eram o motor Cummins e o câmbio. “Foram cinco anos e aproximadamente R$ 30 mil”, contabiliza sorrindo o dono do Mack que ainda não está satisfeito com a recuperação. “Ainda preciso encontrar uma placa B81 que vai ao lado do nome Mack, nas laterais. Já procurei muito e ainda não encontrei. Mas vou encontrar”.
Ele não ia visitar o 9º Encontro dos Amigos do Charada. A filha insistiu e ele acabou trazendo a família toda. Márcio Fernando Rodrigues, de 37 anos de idade, e 11 de caminhoneiro, estava muito contente. Não apenas pelo ambiente, muitos caminhões e amigos, mas principalmente pelo fato de que no dia seguinte iria começar trabalhar com seu próprio caminhão. “O verdadeiro ‘Jacaré’”, diz com orgulho sobre seu Scania 110, ano 68. “Comprei há 15 dias. É meu primeiro caminhão. Sempre trabalhei como empregado e agora vou trabalhar transportando produtos de uma empresa de alimentos, de Cajamar para a grande São Paulo”.
Segundo ele, caminhão não tem idade, desde que tenha motor, chassi e parte elétrica, funcionando, o resto não tem problema. “Eu não ia vir, mas a minha filha me chamou e acabei trazendo a família inteira. Virou quase um piquenique”, disse sorrindo.
Oswaldo Batista de Macedo, 44 anos de idade e 22 de profissão, veio junto com os amigos da Transportadora Gemark. Veio ver e ser visto com o caminhão personalizado que a empresa oferece a cada funcionário. “Transportamos caixarias de São Paulo para o Nordeste, e voltamos com 48 toneladas de gesso em um rodotrem de nove metros”, conta Macedo. “Gosto desse tipo de encontro para conversar com os amigos, ver caminhões bonitos e relaxar um pouco”.
Marlon Franca, de 36 anos e nove de caminhoneiro, é amigo de Macedo e também trabalha na Gemark, disse que frequenta os encontros de caminhoneiros para se divertir. “Nos encontros, a gente pode encontrar colegas que não encontramos no dia a dia, mesmo trabalhando na mesma empresa”, explica Franca. “As cervejas que a gente não pode beber na estrada, bebemos aqui”, diz sorrindo.
Mas tudo é feito com muita responsabilidade. “Estamos em quatro motoristas da mesma empresa”, afirma Franca. “Três de nós pode beber sem problemas, por que o quarto já foi escalado para ficar só olhando e tomando refrigerante. É ele quem vai levar os outros para casa. Não que a gente beba muito, mas é sempre bom evitar problemas”.
E se o Encontro estava cheio de crianças, duas delas, de 40 anos, se destacaram. Roberto de Sousa e Rogério Inácio pareciam duas crianças orgulhosas mostrando parte de suas coleções de caminhões em miniatura.
Sousa ganhou uma miniatura de caminhão Volvo, de amigo secreto e decidiu incrementar. “Coloquei segundo eixo, tanque de alumínio, Interclima, fiz um baú porque o original era cegonha e uma pintura diferente”, conta Sousa que arrumou um “mecânico” para as miniaturas: o filho. “Depois comprei outro Volvo, um VM, e a paixão por caminhão e miniaturas não tem jeito. Já passou para meu filho também”.
Inácio começou quando era pequeno. “Viajei com meu amigo em um caminhão Mercedes”, lembra. “Gostei tanto dos caminhões que comecei a comprar as miniaturas, mas sou apaixonado pelo Perterbilt”.