Entrevistamos Daniel Reyes Arroyo, Diretor-Presidente da Fabrini

Daniel Bernardino Reyes Arroyo, Diretor-Presidente da Fabrini, compartilha sua visão sobre inovação, eficiência e sustentabilidade. Com quase um século de história, a empresa segue investindo em tecnologia e expansão para reforçar sua liderança no mercado de feixes de molas.

Revista Caminhoneiro - A Fabrini é reconhecida como o maior fabricante de feixes de molas da América Latina. Quais são os principais diferenciais que garantem essa liderança no mercado?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo – Em primeiro lugar, o diferencial é o know-how. A Fabrini, fundada em 1932, está prestes a completar 100 anos. Até 1996, era uma empresa nacional com forte presença no fornecimento de seus produtos para montadoras, sendo, inclusive, pioneira nesse segmento. Sua trajetória começou em São Paulo e, em 1958, teve início a construção de uma planta em São Bernardo do Campo. Já em 1960, a empresa passou a fornecer para as primeiras montadoras do Brasil. Em 1996, a Fabrini foi incorporada pela Rassini, grupo líder no fornecimento de sistemas de suspensão por molas na América do Norte. No mesmo ano, uniu-se à NHK do Brasil, dando origem à RNA Automotive, mantendo a marca Fabrini no mercado de reposição. Pertencente tanto ao grupo Rassini quanto à NHK, do Japão, a empresa tem acesso a tecnologias de ponta.

Atualmente, a Fabrini detém aproximadamente 65% de participação no fornecimento para montadoras quando o segmento é de veículos pesados. No mercado de reposição, a marca mantém uma forte proximidade com seus diversos clientes, sempre oferecendo as melhores soluções. Outro grande diferencial é a flexibilidade proporcionada pela presença de duas plantas no Brasil: uma em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, e outra em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Essa estrutura permite grande agilidade e eficiência no fornecimento.

Revista Caminhoneiro - O setor de transporte pesado exige alta durabilidade e confiabilidade dos componentes. Como a Fabrini garante que seus produtos atendam a essas necessidades?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo – Grazi, essa pergunta está muito relacionada à primeira. A maioria dos caminhões e ônibus que circulam no Brasil são originalmente equipados com nossos produtos, o que nos proporciona um amplo conhecimento sobre seu desempenho e comportamento ao longo do uso, especialmente no que diz respeito à suspensão como um todo. Além disso, contamos com uma engenharia especializada voltada ao mercado de reposição, desenvolvendo soluções sob medida para atender às demandas específicas de diferentes segmentos, como mineração e coleta de resíduos, que possuem requisitos operacionais distintos. Nossa abordagem permite a oferta de produtos customizados por meio da engenharia, sempre focando em proporcionar não apenas molas, mas soluções eficientes e de alto custo-benefício. A Fabrini também se destaca por oferecer soluções que reduzem os custos de manutenção, garantindo maior durabilidade e confiabilidade aos componentes. Nosso compromisso vai além do produto em si: vendemos desempenho e otimização de custos por quilômetro rodado. No mercado de reposição, aplicamos engenharia avançada para analisar as diversas necessidades e desenvolver soluções que atendam com precisão às exigências dos clientes.

Revista Caminhoneiro - Além da qualidade dos feixes de molas, a Fabrini destaca-se por oferecer soluções que reduzem os custos de manutenção. Como isso é possível na prática?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo – Na verdade, essa questão já foi abordada na pergunta anterior, mas posso detalhar melhor. Conseguimos reduzir os custos de manutenção por meio de uma equipe técnica especializada que atua diretamente em campo. Nosso time analisa as necessidades específicas de cada segmento e propõe soluções personalizadas que otimizam a operação. Nosso foco está principalmente em operações severas, onde a manutenção é centralizada. Isso nos permite mensurar com precisão os benefícios proporcionados pelos nossos produtos customizados, garantindo maior eficiência e redução de custos para nossos clientes.

Revista Caminhoneiro - A inovação e a tecnologia desempenham um papel fundamental na indústria automotiva. Quais são as principais inovações que a Fabrini trouxe recentemente para o mercado?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - Temos como acionista o Grupo Rassini, líder no fornecimento para a América do Norte, e a NHK, que domina o mercado asiático e está presente em todo o mundo. Esse respaldo nos dá acesso às mais avançadas tecnologias do setor. Nossas equipes de engenharia no Brasil mantêm um contato contínuo com essas referências globais, permitindo a incorporação das inovações mais recentes. No nosso produto, a evolução tecnológica ocorre principalmente nos processos produtivos e no desenvolvimento de materiais. A indústria automobilística exige cada vez mais componentes mais leves, o que melhora a capacidade de carga, reduz o consumo de combustível e diminui a emissão de poluentes — muitas vezes, mantendo ou até aumentando a resistência à carga. Isso exige soluções que utilizem menos material, reduzindo o uso de matéria-prima e aço, sem comprometer a performance. Um exemplo dessa evolução são as molas parabólicas, que surgiram há algum tempo e, hoje, estão presentes na quase totalidade dos veículos. Essa tecnologia permite transportar a mesma carga — ou até cargas maiores — com um produto mais leve, proporcionando benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a eficiência operacional. Além disso, nossa engenharia está sempre atenta às novas tendências, participando de eventos e feiras tecnológicas no Brasil e no exterior. Aqui no país, inclusive, patrocinamos o Colloquium de Suspensões e Implementos Rodoviários & Mostra de Engenharia da SAE Brasil, que será realizado em maio de 2025, em Farroupilha (RS), reforçando nosso compromisso com a inovação no setor.

Revista Caminhoneiro - A demanda por eficiência e sustentabilidade no setor de transportes está cada vez maior. Como a Fabrini tem trabalhado para oferecer produtos que atendam a esses desafios?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - Atualmente, 90% da eletricidade utilizada na Fabrini é gerada e certificada a partir de fontes renováveis, garantindo uma operação mais sustentável e sem impacto ambiental negativo. Além disso, utilizamos 100% da água do processo produtivo de forma reciclada, contando com equipamentos específicos para o tratamento de resíduos e água em ambas as plantas. O descarte de resíduos é realizado de maneira seletiva, seguindo todas as normas vigentes. Já a sucata de aço gerada é integralmente reciclada e devolvida aos fornecedores, contribuindo para a economia circular na indústria siderúrgica.

Revista Caminhoneiro - A empresa possui a linha de produtos mais completa do mercado nacional. Pode nos contar mais sobre os segmentos atendidos e os produtos que compõem esse portfólio?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - Nosso portfólio abrange desde molas mais simples em termos de construção, como as molas de carreta, amplamente utilizadas no setor de usinas de cana-de-açúcar e também pelo segmento madeireiro. Além disso, contamos com os feixes trapezoidais, que são feixes convencionais. Embora seu uso esteja diminuindo nos veículos novos, ainda possuímos um portfólio expressivo para o mercado de reposição, devido à idade da frota circulante. Esse segmento representa uma parte significativa de nossas vendas.

Por fim, trabalhamos com os feixes parabólicos e os Air Links. Os parabólicos são feixes mais leves, compostos por menos lâminas de aço, mas capazes de suportar a mesma carga, proporcionando eficiência estrutural. Já os Air Links são componentes utilizados em suspensões mistas (aço e ar), funcionando quase como molas tensoras que acomodam um bolsão de ar, contribuindo para um desempenho mais equilibrado da suspensão. Além das molas, também fornecemos grampos de fixação, elementos de fixação para suspensão e diversas peças estampadas, que, em sua maioria, são voltadas para a fixação dos componentes da suspensão.

Revista Caminhoneiro - A Fabrini tem planos de expansão ou novos investimentos para os próximos anos? Há novidades que o mercado pode esperar?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - Temos um planejamento estratégico para o período de 2025 a 2028, com um investimento total de R$ 150 milhões, distribuídos entre nossas duas plantas industriais. Esse investimento tem três principais objetivos:

• Aumento da capacidade produtiva - Buscamos ampliar a capacidade de produção das fábricas, garantindo maior eficiência e volume de produção para atender à demanda crescente do mercado.
• Otimização dos processos - Além de expandir a produção, investimos em novos equipamentos que aprimoram os processos, tornando-os mais refinados e permitindo a fabricação de produtos mais leves e resistentes, que operam sob níveis mais elevados de tensão. Isso exige o uso de matérias-primas de maior qualidade e processos de fabricação mais avançados.
• Sustentabilidade e ESG - Um dos pilares do investimento é a modernização das operações para atender às exigências ambientais e de governança corporativa. Estamos substituindo fornos que atualmente utilizam gás por modelos elétricos com aquecimento por indução, um processo mais eficiente e sustentável. Essa mudança trará benefícios ambientais significativos, alinhando nossas operações às melhores práticas globais de sustentabilidade.

Com esse plano, reforçamos nosso compromisso com a inovação, eficiência produtiva e sustentabilidade, garantindo que nossa linha de produtos continue sendo referência no mercado nacional.

Revista Caminhoneiro - Em um setor cada vez mais dinâmico, quais são os principais desafios que a Fabrini enxerga para o futuro e como a empresa está se preparando para enfrentá-los?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - Temos plena consciência de que o mercado será cada vez mais disputado e competitivo. Estamos atentos às tendências globais, incluindo a possível desglobalização, mas, independentemente disso, a concorrência internacional continuará crescendo. Assim como exportamos nossos produtos, também enfrentamos concorrência de players do mundo todo, incluindo os chineses, que vêm se tornando cada vez mais agressivos. Embora alguns produtos deles tenham qualidade inferior, há também opções competitivas no mercado.

Nosso foco está na melhoria contínua de processos e na busca por maior competitividade, principalmente em relação aos insumos que utilizamos. Trabalhamos em estreita parceria com nossos fornecedores para garantir essa eficiência. Além disso, investimos fortemente em pesquisa e desenvolvimento de novos materiais para aprimorar nossos produtos.

Outra estratégia essencial é a diversificação do portfólio. Estamos estudando o lançamento de novos produtos, embora essa iniciativa ainda esteja em fase de análise.

Revista Caminhoneiro - Qual é a expectativa para o mercado de caminhões neste ano?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - Atuamos em um mercado estável, ou seja, nossa expectativa é que 2025 apresente um volume de vendas muito próximo ao de 2024. No segmento de ônibus e caminhões, a venda de ônibus foi impulsionada pelo programa Caminho da Escola, uma iniciativa do governo que estimulou a demanda.

Revista Caminhoneiro - Para finalizar, que mensagem você deixaria para os clientes e parceiros da Fabrini?

Daniel Bernardino Reyes Arroyo - A mensagem que deixamos para nossos parceiros da Fabrini, que confiam na marca, é o nosso compromisso em estar cada vez mais próximos, oferecendo soluções que realmente atendam às suas necessidades, tornando suas operações mais eficientes e rentáveis. Nosso foco é sempre evoluir, aprimorar nossos produtos e garantir a melhor qualidade possível. Diferentemente de muitas empresas, principalmente no mercado de reposição, não nos limitamos a apenas reembalar produtos. Se, eventualmente, trouxermos algo de fora, será exclusivamente das plantas dos nossos acionistas, mantendo nosso padrão de qualidade e confiabilidade. Tudo o que oferecemos ao mercado é produzido por nós, desenvolvido e fabricado no Brasil, com nossas próprias especificações e um controle rigoroso.

Infelizmente, observamos que algumas marcas tradicionais no mercado, na nossa opinião, não respeitam sua própria história, comercializando produtos de origem duvidosa. Esse nunca será o nosso caminho. Preferimos dedicar mais tempo ao desenvolvimento correto de um item do que simplesmente adquirir algo pronto de terceiros e apenas estampar nossa marca.

O mais importante é que nossos clientes e parceiros saibam que podem contar conosco como aliados de seus negócios. Obrigado, e seguimos juntos!