Na tradicional seção "Preto no Branco" da edição nº 410 da revista Caminhoneiro, entrevistamos Ricardo Alouche, vice-Presidente de Vendas, Marketing e Serviços da Volkswagen Caminhões e Ônibus, que abordou a transição para o Euro 6, desafios econômicos, veículos elétricos, renovação da frota, entre outros assuntos. Confira na íntegra:
Revista Caminhoneiro - Como o executivo vê a evolução recente da indústria de caminhões?
Ricardo Alouche - O ano de 2023, na nossa visão, é um ano de transição de uma série de fatores, como a mudança da motorização do Euro 5 para o Euro 6. Trabalhávamos com base em uma projeção que nunca se mostrou tão efetiva e real. Tínhamos afirmado que nos primeiros quatro meses do ano o mercado não teria grandes quedas, pois estaríamos comercializando os veículos Euro 5 que a indústria havia produzido no final do ano, e a rede de concessionários os teria em estoque. No caso da VWCO, contávamos com estoques de Euro 5 zero, mas há montadoras que tinham um pouco de estoque. Assim, os primeiros três meses tiveram um volume de emplacamento relativamente positivo e, à medida que os veículos Euro 5 foram ficando escassos, iniciou-se a introdução efetiva do Euro 6 por volta dos meses de abril e maio. Com novos preços, características e termos técnicos, as montadoras enfrentaram dificuldades para lançar muitos modelos na mesma data, o que as levou a fazer lançamentos gradativos. Nossa expectativa era que o mercado fosse cair em abril, maio e junho, e efetivamente isso ocorreu.
Revista Caminhoneiro - Com base nesse breve panorama, como o executivo percebe a situação atual?
Ricardo Alouche - Estamos distantes de experimentar um crescimento acentuado, porém identificamos um período de ascensão na curva, sobretudo durante o mês de agosto, quando o mercado iniciou uma recuperação em comparação com junho. No entanto, é relevante destacar que ainda nós mantemos em um patamar inferior. Acreditamos que, de forma gradual, ocorrerá a recuperação do mercado.
Revista Caminhoneiro - Como percebe o cenário de negócios atualmente?
Ricardo Alouche - Entre as dificuldades, destacam-se a estabilização dos preços dos veículos Euro 6 no mercado e a transição do Euro 5 para o Euro 6. Isso ocorre porque ainda há veículos Euro 5 de concorrentes disponíveis nas redes de concessionárias. No nosso caso, como mencionei anteriormente, essa situação praticamente chegou ao fim. Agora, precisamos nos basear nos veículos Euro 6, os quais possuem um patamar de preço superior ao do Euro 5. Esses são alguns dos obstáculos, visto que tanto frotistas em geral quanto pequenos transportadores ainda não conseguiram repassar aos seus clientes um aumento nos custos do frete e em outros serviços contratados que possuem acordos estabelecidos. Os contratados para prestação de serviços e fretes ainda não experimentaram uma recuperação.
Revista Caminhoneiro - Existem mais aspectos a serem considerados neste momento atual?
Ricardo Alouche - Sem dúvida. Destaco, ainda, a elevação da taxa de juros. No mês passado, o Banco Central anunciou uma redução de 0,5% na Selic, o que é um passo positivo e marca o início, em nossa opinião, de uma trajetória gradual de diminuição das taxas de juros em nosso país. No entanto, essa diminuição de 0,5% é ínfima considerando a taxa de juros de 13,75%. Embora seja positivo observarmos a queda na Selic, ela ainda se mantém em um nível bastante elevado. Isso significa que a combinação entre essa taxa alta e o aumento no preço dos caminhões Euro 6 dificulta ainda mais a aquisição de novos veículos para empresas e pequenos empresários. Além disso, devemos considerar a possibilidade de que, mesmo que o mercado reaja rapidamente, a questão dos semicondutores e chips, bem como os desafios da cadeia logística mundial, não esteja totalmente resolvida. Atualmente, não estamos enfrentando escassez desses componentes, mas essa situação se deve em parte à baixa produção atual. Dependendo de como o mercado evoluir, há a chance de ocorrer novamente escassez de alguns componentes no futuro. A situação geopolítica, como a guerra na Ucrânia, também influencia, visto que temos fornecedores de chips e chicotes localizados nesse país, além das dificuldades econômicas e financeiras enfrentadas por nações da América do Sul. Em resumo, os principais desafios que enfrentamos no momento envolvem o equilíbrio desses diversos pontos.
Revista Caminhoneiro - Diante deste cenário, a produção de caminhões deverá registrar uma queda em relação ao ano passado?
Ricardo Alouche - A Anfavea projeta uma produção total de 128 mil unidades de caminhões e ônibus para o ano de 2023. No ano passado, encerramos com 144 mil unidades produzidas. É importante notar que esse número engloba veículos com peso acima de 3,5 toneladas, além dos ônibus. De acordo com a estimativa da Anfavea, é provável que o mercado sofra uma queda devido aos pontos que já abordamos anteriormente. Acredito que o mercado esteja em processo de recuperação e que continuará nessa trajetória. Contudo, é possível que essa recuperação não seja suficiente para preencher essa diferença.
Revista Caminhoneiro – Com todas essas transformações, qual é o atual cenário em relação à idade média da frota de caminhões?
Ricardo Alouche – A média de idade da frota de caminhões em todo o Brasil estava em torno de 8 anos para frotistas e empresas, e cerca de 17 anos para os autônomos. Nos últimos dois anos, observamos um aumento no envelhecimento da frota. Os empresários realizaram menos renovações em seus veículos, e os autônomos estão ainda em uma situação mais desafiadora. Isso significa que a idade média da frota teve um incremento nos últimos dois anos. No momento, os autônomos possuem veículos com uma idade média entre 21,5 e 22,3 anos, enquanto os frotistas mantêm uma faixa de 10,6 a 11,0 anos. É por esse motivo apoiamos o programa de renovação de frota do governo federal. À medida que esse programa for gradualmente implementado, ele contribuirá para a redução da idade média da frota novamente.
Revista Caminhoneiro - Como estão as vendas dos veículos elétricos da VWCO neste cenário?
Ricardo Alouche - Grazi, somos pioneiros e continuaremos a investir fortemente. Os caminhões ainda são os únicos veículos de carga desenvolvidos pela VWCO no Brasil e vendidos aqui; os demais são todos importados. Temos despertado o interesse de grandes empresas em relação aos nossos veículos. Atualmente, estamos negociando lotes com empresas tanto do nosso país quanto de outros lugares. Algumas dessas empresas possuem operações consolidadas nos países onde atuamos. Por exemplo, a Coca-Cola já possui o e-Delivery em operação no Brasil, México e Paraguai. Dessa forma, o e-Delivery está deixando de ser uma realidade exclusiva do Brasil e está conquistando novas fronteiras. Embora ainda em volumes pequenos, é altamente representativo na abertura de novas perspectivas nos próximos anos. Continuamos acreditando no potencial desse veículo, especialmente no segmento de distribuição urbana. No entanto, é importante mencionar que, devido às incertezas do mercado, as vendas de veículos elétricos também foram impactadas este ano. Com a retomada do setor de forma geral, esperamos que as vendas dos veículos elétricos também se recuperem. Em resumo, estamos otimistas em relação ao futuro dos veículos elétricos, especialmente no contexto da distribuição urbana. Acreditamos que, apesar dos desafios momentâneos, o mercado se fortalecerá e as vendas voltarão a crescer.
Revista Caminhoneiro – Como está o percurso da VWCO para conquistar novos mercados?
Ricardo Alouche – Esta jornada está sendo realizada com vigor redobrado e uma determinação sólida. Possuímos um plano de internacionalização em andamento e estamos avaliando inúmeras possibilidades, incluindo os mercados da Ásia e África, bem como os territórios onde já temos presença consolidada. Estamos passando por processo de remodelação e realizando investimentos com grandes expectativas de crescimento no mercado mexicano. Além disso, estamos na fase final da implementação de nossa fábrica na Argentina, conforme mencionado em ocasiões anteriores por Roberto Cortes. Os nossos pilares estão sendo consolidados e em breve teremos boas notícias. Aguarde!
Revista Caminhoneiro: Como está sendo recebida a nova linha de caminhões Euro 6?
Ricardo Alouche - A aceitação dos caminhões Euro 6 por parte dos clientes que já os adquiriram e estão utilizando tem sido extremamente positiva. Os resultados superam amplamente as nossas expectativas iniciais. Os clientes da VWCO estão constatando a realização das promessas que fizemos durante os lançamentos, como a redução no consumo de combustível, uma diminuição nos custos de manutenção e um maior conforto para o motorista, além da tecnologia embarcada presente em nossos produtos. Dessa forma, a conjunção desses fatores nos transmite a mensagem de que os clientes estão plenamente satisfeitos com os caminhões e ônibus da linha Euro 6.
Revista Caminhoneiro - Como avalia os serviços oferecidos pela VWCO?
Ricardo Alouche - Experimentamos um substancial aumento em nossas opções e receitas. Destacamo-nos como a única empresa a disponibilizar cinco modalidades de contratos de manutenção para todo o mercado, variando desde o nível básico até o contrato mais completo. O desfecho dessa abordagem é evidente, com um aumento contínuo nas vendas de contratos de manutenção a cada ano. Outro pilar essencial é a implementação da plataforma RIO e a dedicação de nossa equipe ao monitoramento de frotas. Essa estratégia tem ampliado seus horizontes, resultando na disseminação dessas soluções. O resultado é que mais e mais clientes do mercado estão adotando o acompanhamento digital oferecido diretamente pela fábrica, conferindo-lhes mais tranquilidade. Ademais, estamos disponibilizando serviços digitais, como exemplo agendar revisões diretamente com o concessionário. As ferramentas digitais ganham espaço de maneira contínua, constituindo pilares fundamentais em nossa oferta aos clientes. Sem dúvida, esse é um dos principais focos para o ano de 2023 e sua relevância será ainda maior em 2024. Temos orgulho de possuir uma das maiores redes de concessionárias do país, com aproximadamente 150 pontos de atendimento distribuídos até em regiões mais remotas. Isso garante que nenhum cliente fique desamparado quando precisar.
Revista Caminhoneiro - A VWCO foi precursora na introdução do aluguel de caminhões. Como se encontra o cenário desse tipo de negociação?
Ricardo Alouche - Encontra-se em uma fase de notável ascensão. Observamos um crescimento constante e expressivo nas locações anuais para empresas de aluguel, abrangendo toda a indústria. Em 2018, houve o registro de 1.800 caminhões adquiridos por locadoras, enquanto que em 2022, esse número aumentou para 8.200. O progresso é claramente exponencial. A frota adquirida por meio dessa modalidade cresceu impressionantes 254% entre os anos de 2018 e 2022. As montadoras têm introduzido novas opções para atender às demandas dos clientes interessados em explorar as possibilidades de locação. Antes, os clientes tinham preferência por possuir os veículos, mas atualmente, o mercado demonstra uma abertura crescente para considerar essas alternativas. Embora a mudança não aconteça da noite para o dia, é evidente que o mercado está progressivamente mais receptivo a avaliar essa oportunidade. Sem dúvida, a locação no Brasil veio para ficar e apresenta uma tendência de crescimento nos próximos anos. Embora possa não atingir o mesmo patamar da locação de automóveis, representa uma nova ferramenta, como já mencionei anteriormente.
Revista Caminhoneiro - Deixe uma mensagem aos nossos seguidores.
Ricardo Alouche - O veículo que você representa, a revista Caminhoneiro, é muito conceituada e respeitada. Então, fiquem sempre atentos às informações que são passadas nesse canal. Podem contar com a certeza de que elas estão sempre atualizadas e são as mais relevantes. Continuem utilizando essa fonte valiosa para interagir com as montadoras e se manterem informados sobre as últimas novidades no mundo dos caminhões. Quero destacar o orgulho que sentimos na parceria entre a VWCO e a revista Caminhoneiro, valorizando cada seguidor que está conosco nessa jornada. Agradecemos a todos e seguiremos em frente, prontos para enfrentar os próximos desafios juntos.
LEIA TAMBÉM:
Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!