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IAA Transportation: confira os destaques da Mercedes-Benz no maior evento de transporte do mundo

Por Graziela Potenza em 24/09/2024 às 05:19
IAA Transportation: confira os destaques da Mercedes-Benz no maior evento de transporte do mundo

Em Hannover, a Mercedes-Benz destaca inovações em transporte com zero emissões e desafia governos europeus a ampliarem a infraestrutura para veículos elétricos. Caminhões e ônibus definidos por software também ganham destaque.

Sob o convite especial da Mercedes-Benz, a revista Caminhoneiro teve a honra de participar da IAA Transportation, o maior e mais prestigiado evento global dedicado a veículos comerciais, logística, ônibus e transporte, realizado entre os dias 17 e 22 de setembro, em Hannover, Alemanha. Nesta edição histórica, marcada por modelos, sobretudo, elétricos e hidrogênio, a Mercedes-Benz Trucks, junto com outros grandes fabricantes internacionais, voltaram suas atenções para o futuro, destacando inovações em transporte com zero emissões. A feira, mais uma vez, se consolidou como o epicentro das discussões sobre as novas fronteiras da mobilidade sustentável.

Durante a IAA Transportation, o Grupo Daimler destacou a necessidade urgente de mais carregadores para caminhões elétricos na Europa, dirigindo uma cobrança direta aos governos da região. A montadora, que agora oferece uma gama renovada de modelos eletrificados, acredita que a maior barreira para a ampla adoção desses veículos já não reside na indústria.



"Os modelos que apresentamos aqui não são protótipos, mas sim produtos prontos para o mercado", afirmou Karin Radström, futura CEO do Grupo Daimler. Radström enfatizou que, para avançar na descarbonização do continente europeu, é essencial que o setor público invista na expansão da infraestrutura de recarga.

Embora o tema da infraestrutura de carregamento esteja em discussão na Europa há mais tempo do que em outras partes do mundo, impulsionado por uma agenda de emissões zero estabelecida pela União Europeia que abrange diversos setores econômicos, a falta de pontos de recarga adequados continua sendo um obstáculo significativo. Esse desafio não se limita à Europa, mas também afeta grande parte do mercado ocidental.

Segundo estimativas da Mercedes-Benz, para que a Europa possa atender à demanda crescente de caminhões elétricos, será necessário estabelecer uma rede com pelo menos 35 mil estações de recarga até 2030. Atualmente, existem cerca de 600 pontos capazes de realizar recargas rápidas em caminhões pesados, um número ainda muito aquém do necessário.

Enquanto aguarda uma resposta do setor público quanto à expansão dos carregadores, a Mercedes-Benz está pronta para o mercado com uma linha de caminhões equipada com tecnologias inovadoras, principalmente focada em powertrains elétricos. 

Para Karin Radström é fundamental as empresas unirem forças, especialmente frente aos desafios contemporâneos. Ela argumenta que os grandes problemas globais só podem ser solucionados por meio da colaboração em busca de metas compartilhadas.

"Estou convencida de que um dos principais objetivos globais deve ser o combate às mudanças climáticas. Na Europa, já contamos com diversas legislações voltadas a essa direção, e como fabricantes de caminhões, temos a responsabilidade de diminuir as emissões de CO2.”

Destaques

A presença da Daimler Truck no evento traz o caminhão Mercedes-Benz eActros 600 elétrico à bateria como seu destaque. Com o seu novo carro-chefe elétrico, o fabricante pretende descarbonizar o transporte de longa distância, que é responsável por dois terços – e, portanto, a maior parte – das emissões de CO2 no tráfego de caminhões. A alta capacidade da bateria de mais de 600 quilowatts/hora é um destaque. A autonomia do eActros 600 é de 500 quilômetros sem carregamento intermediário. Esta autonomia é alcançada sob condições muito realistas, refletindo o uso padrão com 40 toneladas de peso bruto total combinado. Entretanto, esse número pode ser maior dependendo do estilo de condução e rota percorrida. Com o carregamento intermediário, o eActros 600 será capaz de se deslocar por mais de 1.000 quilômetros por dia.

"As vendas do eActros 600 começaram no final do ano passado, e a Daimler Truck já contabiliza cerca de 2.000 unidades vendidas, segundo Karin Radström. Além dos pedidos confirmados, há também diversas cartas de intenção, somando um volume adicional significativo na casa dos milhares."

Entre os principais destaques da Daimler Truck na IAA, encontram-se várias inovações significativas: o FUSO Next Generation eCanter, que foi apresentado como um veículo de coleta de lixo totalmente elétrico; o Mercedes-Benz GenH2, um caminhão equipado com célula de combustível de hidrogênio; e o lançamento do novo Mercedes-Benz Actros L, que agora conta com aerodinâmica aprimorada. Além disso, a Daimler Truck apresentou duas estreias mundiais: o novo ônibus urbano Mercedes-Benz eCitaro K, movido à bateria e com uma distância entre eixos reduzida, e o novo Mercedes-Benz Tourismo Safety Coach, projetado para oferecer ainda mais segurança e conforto. 

Software

O futuro do transporte de caminhões está sendo reimaginado como uma solução sem emissões e fortemente baseada em software. Para alcançar esse objetivo, a Daimler Truck, em parceria com o Grupo Volvo, está redefinindo a arquitetura de seus veículos, buscando estabelecer um novo padrão industrial. Essa nova arquitetura será enxuta, de alto desempenho e incluirá um sistema operacional dedicado, o que permitirá criar veículos comerciais definidos por software. Esses veículos prometem oferecer níveis inéditos de segurança, conforto e eficiência aos clientes.

Com essa evolução, os caminhões e ônibus definidos por software serão capazes de realizar funções que vão além das atuais, especialmente em termos de segurança, como detectar perigos antes dos sentidos humanos. Além disso, esses veículos poderão automatizar tarefas administrativas, como o envio digital de documentos de frete e entrega, reservas de estacionamentos com estações de carregamento e até mesmo a organização de comodidades para os motoristas, como chuveiros e refeições.

A capacidade computacional desses veículos também permitirá que eles se tornem parceiros ativos nas operações logísticas, analisando e otimizando, em tempo real, grandes volumes de dados relacionados à rota, como topografia, tráfego e preços de energia. Isso tornará as operações mais eficientes, impactando positivamente os negócios dos clientes.

A base dessa visão está na joint-venture planejada entre a Daimler Truck e o Grupo Volvo, cujo objetivo é desenvolver uma plataforma de veículos definidos por software, estabelecendo um novo padrão para a indústria de veículos comerciais. Essa parceria será responsável por especificar e adquirir unidades centrais de computação que serão integradas aos veículos, capazes de processar grandes volumes de dados e manter os veículos sempre atualizados.

Além disso, o desenvolvimento do sistema operacional e da plataforma de programação permitirá que a Daimler Truck e o Grupo Volvo ofereçam aplicativos diferenciados para seus clientes, com ciclos de desenvolvimento de software e hardware desacoplados. Isso possibilitará aos clientes a compra de ofertas digitais adicionais e a implementação de atualizações remotas mesmo após a aquisição do veículo, garantindo que os veículos permaneçam modernos e eficientes por mais tempo. 

Brasil

Na edição de 2024 da IAA Transportation ficou evidente que o futuro dos caminhões já está sendo moldado por novas soluções de descarbonização. Veículos elétricos, movidos a hidrogênio e outras tecnologias alternativas já não são mais meros protótipos — eles estão prontos para entrar em ação e transformar a frota global. No entanto, essa revolução verde ainda enfrenta desafios consideráveis em países europeus e também no Brasil.

A rede de infraestrutura necessária para o abastecimento de veículos elétricos e movidos a hidrogênio nas rodovias europeias e nas brasileiras ainda são incipientes. Isso significa que, apesar dos avanços tecnológicos e do compromisso global com a redução de emissões, os motores a diesel continuarão desempenhando um papel crucial no transporte rodoviário brasileiro por mais alguns anos.

Contudo, não se pode negar o progresso também nesta área. Graças ao Proconve P8 (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), a mais recente geração de motores a diesel apresenta emissões significativamente reduzidas, posicionando-se como uma opção intermediária, mas ainda relevante, na transição para um transporte mais sustentável. Com a implementação das novas fases do Proconve, os motores diesel estão mais eficientes e menos poluentes, alinhando-se com as exigências ambientais sem comprometer a robustez e a autonomia necessária para longas viagens pelo interior do Brasil.

Portanto, embora as soluções elétricas e de hidrogênio representem o futuro da mobilidade sustentável, o diesel reformulado, com suas emissões reduzidas, continuará sendo uma solução prática e viável, especialmente em um país continental como o Brasil, onde a infraestrutura ainda é um obstáculo significativo para a rápida adoção de tecnologias mais limpas. A descarbonização dos caminhões está a caminho, mas ela virá em diferentes velocidades e formatos, dependendo das realidades regionais e dos desafios de infraestrutura.

Segundo Jefferson Ferrarez, vice-Presidente de Vendas e Marketing da Mercedes-Benz do Brasil, faz todo sentido trazer essa tecnologia para o país.



"As tecnologias apresentadas nesta IAA representam um grande avanço em relação ao que mostramos há dois anos. Temos agora uma bateria com maior durabilidade, oferecendo mais quilômetros percorridos. O Mercedes-Benz eActros 600 elétrico realmente nos traz mais segurança nesse caminho que a Daimler Trucks está trilhando para descarbonizar o setor de transporte como um todo. Esse tipo de tecnologia se tornará cada vez mais adequado ao nosso país. Quando consideramos um caminhão capaz de percorrer mais de 500 quilômetros com uma única carga, estamos nos aproximando da realidade brasileira. A Karin Radström mencionou que cerca de 60% do transporte na Europa é realizado em distâncias inferiores a 500 quilômetros. No Brasil, esse percentual é um pouco menor, mas ainda há muitas empresas para as quais essa faixa de quilometragem pode tornar esse tipo de caminhão uma solução prática no dia a dia. O que precisamos agora é adequar a infraestrutura. Esse é o grande passo que discutiremos dentro do grupo Daimler, para entender como isso pode ser replicado no Brasil. Em relação ao hidrogênio, ele tende a permitir maiores distâncias, superiores a 1000 quilômetros. O caminhão testado está operando com um tanque abastecido com hidrogênio. Acredito que o hidrogênio será bem aceito no Brasil para percorrer longas distâncias e, no final, as duas tecnologias – elétrica e de hidrogênio – se complementarão bem no Brasil. Embora eu entenda que o diesel ainda terá um papel importante no Brasil e será a principal fonte de energia por muitos anos, o elétrico e o hidrogênio farão cada vez mais sentido como soluções ideais para um transporte de baixo carbono."

A Daimler Truck está expandindo seus esforços para apoiar a transição para um transporte de baixo carbono com uma série de iniciativas focadas em caminhões elétricos e movidos a hidrogênio. Recentemente, a empresa anunciou a abertura de quatro novas concessionárias dedicadas a oferecer serviços especializados para esses veículos, incluindo suporte técnico e infraestrutura de recarga e reabastecimento.

Essas concessionárias fazem parte de uma estratégia mais ampla da Daimler para descarbonizar o transporte rodoviário até 2039. Elas estarão preparadas para atender às necessidades específicas dos caminhões elétricos, como o Mercedes-Benz eActros 600, e dos caminhões movidos a hidrogênio, como o Mercedes-Benz GenH2.

A revista Caminhoneiro perguntou a opinião de Silvio Renan, diretor de Peças e Serviços de Caminhões e Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, sobre os serviços destinados a esses tipos de caminhões. Ele destacou:



“Aqui na IAA se discutiu muito sobre a infraestrutura necessária para esses veículos. A Mercedes-Benz precisa liderar a tendência de facilitar essa infraestrutura também para veículos de zero emissões. Quando falamos de carregadores de alta capacidade, que carregam 80% da bateria em 40 minutos, precisamos, de um lado, de investimentos públicos para viabilizar esse tipo de recurso, e, do outro, também precisamos implementar essa estrutura dentro das concessionárias. Esse movimento da Mercedes-Benz de abrir mais pontos de serviços vai exatamente ao encontro dessa necessidade. Primeiramente, precisamos de uma estrutura de carregamento de melhor qualidade e de tecnologias disponíveis; em seguida, a questão da telemetria e gestão de baterias é fundamental para garantir tanto a disponibilidade quanto a longevidade do conjunto de baterias."

Ele acrescenta: "A ideia é que, ao longo de toda a utilização do caminhão elétrico, a Mercedes-Benz esteja monitorando os dados de telemetria para verificar o ciclo de carga, a saúde da bateria, o funcionamento das células etc. O powertrain muda quase completamente, passando a incluir bateria, inversores, eixos elétricos e um sistema de refrigeração para manter a temperatura adequada. A proposta é oferecer um pacote de serviços sempre associado às novas tecnologias, para garantir a maior disponibilidade do veículo, com zero emissão, para o cliente. Esses veículos demandam outros tipos de manutenção e acompanhamento específicos", explica Silvio Renan.

Marcos Andrade, gerente Sênior de Marketing de Produto Caminhões da Mercedes-Benz do Brasil, afirmou:

“Percebemos que, este ano, o foco está bastante direcionado para a eletrificação e o hidrogênio. A eletrificação é ideal para percursos de até 500 quilômetros de autonomia, especialmente para caminhões de distribuição urbana, enquanto o hidrogênio se destaca em trajetos mais longos. A grande estrela é o eActros 600 elétrico.

Marcos Andrade continua sua explicação agora sobre o hidrogênio: demonstrando a viabilidade do uso de hidrogênio líquido no transporte rodoviário de carga, o protótipo rodoviário da empresa, o caminhão Mercedes-Benz GenH2, concluiu no ano passado uma viagem de 1.047 quilômetros pela Alemanha com apenas um abastecimento de hidrogênio líquido, sob condições reais.

“Em resumo, para distâncias curtas e médias, de até 500 quilômetros, o caminho é a bateria. Para distâncias maiores, o hidrogênio se torna a melhor opção, com duas tecnologias disponíveis: a célula de combustível ou o motor a combustão movido a hidrogênio. Na minha opinião, o Brasil tem um enorme potencial para a produção de hidrogênio a baixo custo. No Nordeste, há diversos projetos nesse sentido, inclusive com o objetivo de exportar para a Europa”, finaliza. 

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