A primeira história contada na edição n° 198 da revista Caminhoneiro é de Miklos Stammer. Como surgiu sua paixão pelo renomado Fenemê?
Confira a matéria na íntegra:
Miklos Stammer é filho de húngaro, e não de grego, como o primeiro nome sugere. Nasceu em São Paulo no mesmo ano em que o primeiro FNM de cara chata saía da linha de produção do Estado do Rio.
Apesar da coincidência, sua paixão pelo primeiro caminhão brasileiro surgiu mesmo quando ele tinha 10 anos, numa brincadeira com o inseparável parceiro Robert, seu único irmão.
Como os pais mudaram de São Paulo para a fazendo comprada na região de Nova Europa, interior do estado, os irmãos precisavam enfrentar a estrada para ir à escola.
Para tornar a tarefa diária mais divertida, criaram um jogo: Toda carona com caminhão valia ponto e, indiscutivelmente, para eles, o ponto máximo era dado pelos FNMs, por serem “os mais potentes, imponentes e donos do ronco mais forte da época”.
Os dois cresceram e, a exemplo do irmão, Miklos também foi estudar e trabalhar para a Marinha Mercante. Mas apesar de passar todos esses anos navegando por muitos países, nunca se esqueceu da paixão de infância. E a leva sério até hoje!
Conheceu o prédio onde funcionou a Fábrica Nacional de Motores, em Xerém, RJ, colecionava tudo o que vê sobre o tema, tem uma mini oficina em sua chácara, onde é vizinho do irmão, e fez um sonho virar realidade: tornou-se dono, desde 1991, do seu próprio FNM, um D-11000, ano 1968.
Aliás, um não. Ele tem dois. O segundo, um D-9500, ano 1957, cabine Brasinca, o mesmo modelo que por várias vezes lhe rendeu caronas e pontos à frente do mano.
Miklos Stammer em um dos seus caminhões
Referência nacional quando o assunto é FNM, ensina que a tecnologia da marca era italiana. Porém, ressaltava: “Pesquisando lá no fundo, descobri que o projeto que a Alfa Romeo trouxe para cá foi comprado por alemães, ainda na época do Mussolini, antes da Segunda Guerra”.
Miklos discorre a respeito: “Fizeram um caminhão muito resistente e robusto, além de confortável. Era lento, mas as estradas eram de terra… Tinha um ronco peculiar.
Todo mundo conhecia o ronco do FNM Alfa Romeo de longe. Os detratores até diziam: “Do Alfa, só se salva o ronco, bópópópó…”.
Afirma que o primeiro FNM Isotta Fraschini saiu da linha de produção em 1949. “era narigudo, não cara-chata, como seus sucessores. O modelo chamava-se D-7300 e tinha 10% de nacionalização, eu acho.
A apresentação dele aconteceu num desfile na avenida Rio Branco, no Rio, em dezembro daquele ano. Foi uma festa”. Recorda que os primeiros FNM Alfa Romeo tinham cabines importadas da Itália.
Por serem grandes, volumosas, caras para importação, resolveram projetar a brasileira. E surgiu a Cabine Standard do FNM, “que não tem em lugar nenhum do mundo, porque é uma coisa bem brasileira”.
O processo era artesanal, demoravam para ficar prontas. Aí, vieram os acordos com outras indústrias. “Os FNMs tinham oito cabines diferentes”, diz Miklos, “os modelos Inca, de São Paulo, Brasinca, Metro e Caio, de São Caetano do Sul, SP; Drulla, Rasera e Gabardo, de Curitiba; e Kabi, do Rio de Janeiro”.
O especialista relata ainda que a FNM fez também o primeiro automóvel brasileiro, o Pinar, em 1952. “Tenho inclusive uma foto do momento em que o Pinar estava sendo apresentado ao Getúlio Vargas. Uma raridade que ninguém menciona”, afirma.
Sobre a venda e a extinção da Fábrica Nacional de Motores, opina com firmeza: “O governo brasileiro vendeu a FNM para a Alfa Romeo italiana por um preço escandalosamente baixo.
Esse assunto é muito delicado. Esse assunto é muito delicado. A acusação era de que multinacionais estavam pressionando o governo a se desfazer da FNM e, com isso, abrir caminho para elas no Brasil.
O fato é que a FNM foi praticamente dada, e não vendida. E acho que, depois, foi um era a extinção, da parte da Fiat, que detinha a marca. No mínimo, uma decisão infeliz, porque o Brasil era, na época, um dos maiores mercados para caminhão no mundo”.
Será que ele pensa num museu? “Se eu ganhasse na Mega Sena, a primeira coisa que eu faria seria um Museu do FNM. O brasileiro não é muito ligado em preservar a história de nada.
Na Europa, nos Estados Unidos, se vê museu para os lados, clube de tudo. talvez um dia doe o que tenha a um museu. Mas para qual museu no Brasil vou dar isso? No Brasil não tem sequer um museu do caminhão.
Talvez eu deixe para algum dos Estados Unidos ou Itália”. Só falta isso como tiro de misericórdia, como pá de cal à gloriosa e sofrida história dessas três letras que marcaram época.
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