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Negócios fortes: veja entrevista com vice-presidente da Cummins

Por Revista Caminhoneiro em 14/05/2019 às 10:56
Negócios fortes: veja entrevista com vice-presidente da Cummins

Entrevistamos Luis Pasquotto, presidente da Cummins Brasil, vice-Presidente da Cummins Inc. e responsável pelo Negócio de Motores da Cummins para América Latina. Entre os vários assuntos abordados pelo executivo está a decisão do fim das atividades da Ford Caminhões.

Confira a entrevista de Graziela Potenza e saiba quais são os novos rumos da Cummins:

Revista Caminhoneiro - Como o executivo vê esse ano o segmento de caminhões?
Luis Pasquotto - Eu vejo com ânimo. Porque o primeiro trimestre se considerarmos o licenciamento e a produção foram positivos. O licenciamento de caminhões cresceu na casa dos 47%, em relação ao ano passado, porém ocorreu uma queda nas exportações. Nós levamos muito em consideração a produção, já que participamos das linhas de produção das montadoras. Assim a produção desse trimestre comparado com a do ano passado foi quase semelhante. Cerca de 1%, 2% melhor porque o mercado doméstico teve esse crescimento, mas a exportação registrou uma queda grande de 67%. Mas, estou otimista já que o mercado doméstico tende a melhorar.

Caminhoneiro - A produção de caminhões crescerá neste ano?
Pasquotto - Quando olhamos como um todo o ano de 2019 visualizamos que o mercado doméstico deva alcançar 85 mil caminhões, representando 15% a mais em relação a 2018. Isso nos dá ânimo, até porque que a produção geral estimada seja de 110 mil a 120 mil caminhões produzidos. Índice bem inferior a 2014. Neste ano, Grazi, a produção de caminhões foi de 140 mil unidades. Veja como voltamos no tempo. No entanto, estamos se recuperando. Tem potencial para crescer, mas espero que as questões que interferem diretamente no crescimento do Brasil sejam resolvidas. Isso acontecendo vai crescer mais rápido em relação à hoje.

Caminhoneiro - Qual é a participação da Cummins no segmento de caminhões?
Pasquotto - A Cummins até o momento vinha se mantendo na casa dos 30%. Agora com o anúncio recente da saída da Ford Caminhões do mercado deve alterar. Ela representava 12%. Sendo assim, podemos cair para cerca de 18%. Contudo, é óbvio que esse espaço da Ford vai ser ocupado por outras empresas. Com toda essa movimentação imaginamos que, temporariamente, vamos ficar entre os 23% e 25% de participação. A Cummins não fica parada no tempo e temos outros clientes que já estamos trabalhando.

Caminhoneiro - Como o executivo vê a decisão do fim das atividades da Ford Caminhões anunciada de uma hora para a outra?
Pasquotto - Eu entendo a decisão da Ford. Nós somos parceiros dela há muitos anos. Confesso que lamento muito que tenha acontecido esse comunicado. Trabalhamos juntos tantos anos, uma história de sucesso aqui no Brasil. Por coincidência a Cummins começou trabalhar com a Ford no ano em que eu entrei na Cummins, em 1992. De lá para cá, sempre essa parceria foi sucesso total no mercado. Considerando o meu ponto de vista pessoal, lamento muito e sinto muito mesmo. Ela faz parte da minha vida profissional. Agora se tratando de negócios eu entendo a Ford, que sempre foi uma empresa de reputação, tinha que continuar investindo para manter esta reputaçao, inclusive para Euro 6 que demanda um investimento alto e talvez não trouxesse retorno.

Caminhoneiro - Para a Cummins é uma catástrofe?
Pasquotto - Existe um impacto Grazi, mas não é uma catástrofe. Eu sempre digo: Olhem a Cummins amplamente, com toda a sua diversidade de negócios. Estamos no mercado de motores automotivos, agrícola, máquinas de construção, mineração marítimos, fora de estrada, geradores, segmento de petróleo, entre outros. O impacto acabou sendo mais na fábrica. Agora é óbvio que a Ford Caminhões é um cliente importante para nós. Por isso, na nossa unidade fabril de motores estamos analisando cada detalhe para não tomarmos decisões precipitadas. Esperamos que outros clientes, que utilizam motores Cummins em seus veículos, absorvam uma boa parte desse nicho. Mas desde já, para se ter uma noção, a situação que deparamos hoje é bem melhor em relação aos anos de 2015, 2016 e 2017. Sabemos também que outro parceiro poderá absorver as operações da Ford Caminhões.
Nosso plano ainda é de crescer em um ritmo entre 7% e 10% na fábrica nos próximos anos, até porque nós temos uma excelente força de trabalho, um ambiente aberto, trabalhamos em conjunto e unidos com clientes sugerindo várias aplicações, novos modelos, novas versões, aperfeiçoamentos de motores para eles. As necessidades dos nossos clientes vêm sempre em primeiro lugar.

Caminhoneiro - Apesar de tantos altos e baixos, a Cummins continua apostando no potencial brasileiro?
Pasquotto - Com certeza. Não estamos aqui por acaso, desde a década de 70, sempre investindo. A fábrica tem 45 anos como Cummins e quase chegando à marca de 50 anos de Brasil. Passamos pela pior crise da história brasileira. No meio dessa crise tive uma conversa com a alta cúpula da empresa e não foi cogitado sair do Brasil, mas óbvio que nós temos algumas missões, como não perder o foco em nossos clientes, conquistar novos mercados, entre outros. Essas metas estamos alcançando à risca. Nesse meio tempo, nós crescemos em ônibus cuja a participação atual é de 20%. Quando começou a crise era de 4%.

Caminhoneiro - O que a Cummins irá apresentar na Fenatran/2019?
Pasquotto - Ainda vamos definir. Mas é certo que a Cummins está inovando em motores, mas não só em motores. Nossos negócios são inovações em sistemas de trem de força. Vamos mostrar na Fenatran/2019 nosso posicionamento como empresa que está sempre atenta ao mercado, oferecendo soluções de trem de força. Estamos prontos para trazer ao cliente a solução que ele precisa onde ele estiver. Se precisa de diesel limpo nós temos a solução, de gás, de híbrido, de elétrico puro a Cummins tem para disponibilizar. A Cummins está investindo mundialmente meio bilhão de dólares, nesses negócios.

Caminhoneiro - Como estão os serviços de soluções digitais? Pasquotto - No caso do setor automotivo buscamos soluções digitais em todos os segmentos. Já temos software de monitoramento dos motores. Temos várias razões para coletar dados dos motores com intuito de propiciar, ao proprietário do veículo, informações para que ele possa reduzir o seu custo operacional. Ele terá acesso desde dados básicos até as informações preditivas. Como exemplo, análises permitem diagnóstico de falhas à distância, com recomendações Cummins sobre as operações do veículo, informações encaminhadas instantaneamente para o transportador e/ou motorista. A partir do diagnóstico, o serviço de localização do sistema identifica e encaminha ao usuário/transportador o endereço de um Distribuidor Cummins mais próximo. Outra opção é o contato imediato de um representante Cummins para oferecer detalhes mais precisos sobre o que pode elevar a eficiência da condução. Além disso, já estamos usando fora do Brasil os dados que a gente monitora dos veículos para melhor a qualidade dos produtos e nossos projetos, utilizando a inteligência artificial. Vamos trazer para cá. Para oferecer ao caminhoneiro e ao frotista mais eficiência e redução de custos aqui no Brasil estamos trabalhando com o provedor de serviço GeoTab. A empresa está conectando os caminhões ao nosso sistema. Ela tem soluções voltadas à logística mais fácies de serem usadas. Estamos também em contato com outros provedores desses serviços de conexão. No México já temos três mil caminhões conectados. No Brasil o foco é trabalhar para alcançar essa meta. Vai ser o futuro. Nós temos um software Connected Adviser (consultor conectado) que permite toda o acompanhamento da frota pelo celular. Fornece o relatório de cada veículo com todos os detalhes. Estamos prontos. Hoje, o que faltam são os provedores de serviços.

Caminhoneiro - Hoje, qual é o motor carro-chefe da Cummins?
Pasquotto - O motor mais vendido da gama é o ISF 3.8 que importávamos da China no começo e devido ao seu sucesso estrondoso montamos a sua linha em Guarulhos, SP.

Caminhoneiro - Os motores da Cummins Euro 6 serão os mesmos que rodam na Europa?
Pasquotto – Muito boa pergunta Grazi. A solução que nós vamos trazer para o Brasil do Euro 6 não é a solução que está na Europa. A Cummins tem uma vantagem ao trazer produtos pois, em geral, quando vem para o Brasil chegam produtos que já foram testados lá fora e a gente aperfeiçoa aqui, às nossas condições. O Euro 6 começou na Europa já há alguns anos. O que está vindo para o Brasil é um produto baseado no que está na Europa, mas a gente está simplificando o produto. Está chegando com uma solução mais em conta, mais simples e agora adaptando todos elas para cá, como ISF 2.8 e 3.8, B4.5, B6.7, 9L e também possivelmente um motor Cummins de 12L que é o ISG, motor novo da Cummins para veículos mais pesados. Temos também o motor novo chamado Z na casa dos 13L.

Caminhoneiro - Qual é a sua visão da classe dos caminhoneiros?
Pasquotto - É uma classe superimportante dentro do País, uma classe dedicada, trabalhadora, tem desafios no seu trabalho em um País continental como o nosso com estradas difíceis, sobretudo, fora de São Paulo, não tem muita segurança na estrada. Eu tenho o maior respeito. Eles são os nossos clientes. As montadoras tambem são os nossos clientes, mas quem usa o produto, no dia a dia, são os caminhoneiros. Tanto a Cummins como as montadoras trabalham para melhor lhe servir. Tenho grande respeito, sou muito grato a todos vocês. É uma classe importante para o País. A maior parte da nossa produção é escoada utilizando caminhões. O caminhoneiro tem um papel super-relevante para a nossa economia. Nós trabalhamos para o seu bem-estar, eficiência do caminhão que exija menos manutenção. Isso agrada o dono da frota, mas também o caminhoneiro. A gente se dedica para que o motor não tenha problemas porque sabemos que quem fica na mão é o motorista do volante.

Caminhoneiro - Então, envie um recado para os nossos leitores.
Pasquotto – alguns recados : 1) Confie na Cummins porque a razão do nosso trabalho, na parte automotiva, ao frotista é trazer eficiência operacional, pouca manutenção, preço acessível, baixo consumo de combustível e confiabilidade no produto. Ao caminhoneiro também trabalhamos com o objetivo de trazer conforto e segurança. 2) O caminhoneiro não deve perder a oportunidade de se especializar. Os produtos estão ficando mais complexos e o motorista atual pode ser comparado a um piloto de avião. À medida que os equipamentos vão se sofisticando exige, cada vez mais, competência e preparo. 3) Sigam colaborando com o País já que dependemos muito do escoamento dos produtos. No momento, passamos alguns períodos turbulentos e todos nós precisamos nos unir, independente das suas crenças, e fazer o País seguir em frente, visando o crescimento da economia e geração de empregos

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