Não é de hoje que os consumidores sofrem com os constantes aumentos nos preços dos combustíveis. Mas por que isso acontece? Quais os fatores econômicos, políticos e sociais envolvidos?
Se você é dono de um dos veículos da frota brasileira, então esse é um assunto que lhe interessa muito! Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último levantamento realizado em 2018 o País já havia ultrapassado os 100 milhões de veículos na rua, incluindo carros, caminhões, motos etc.
Esse número registra, de certa forma, quase 1 carro a cada dois cidadãos brasileiros, segundo o apontamento populacional que ultrapassou a marca de 212 milhões de brasileiros.
Levando em consideração os números mencionados, podemos começar de fato a entender nossas dúvidas até o momento. Qualquer veículo, desde motocicletas até o maior dos caminhões precisa de combustível para funcionar.
Hoje até é possível encontrar veículos que não precisam de combustível, como o caso da Scania que apresenta sua primeira linha de elétricos na Europa.
No entanto, embora esse e outros exemplos sejam avanços significativos em relação ao consumo de combustíveis, essa é uma realidade que vem sendo atingida gradativamente no Brasil.
Por isso, durante um bom tempo nossa população deve seguir consumindo combustíveis fósseis, e com esse cenário em mente, a pergunta principal que voltamos a fazer é: por que o nosso combustível é caro?
Bom, essa é uma questão que pode ser respondida de várias formas, então vamos tentar entender alguns dos principais motivos e a partir daí, definir alguns pontos centrais para o preço ser alto.
Problemas com o refinamento
O refinamento é um dos principais determinantes para o preço do combustível. A gasolina para automóveis, assim como o óleo diesel, o GLP (gás de cozinha) e outros produtos consumidos diariamente são derivados do petróleo.
Sendo todos produtos que têm como base a mesma matéria-prima, para que sejam devidamente utilizados o petróleo precisa ser refinado.
Assim sendo, nas refinarias ocorrem processos físico-químicos para que o refinamento do petróleo permita a obtenção de frações dele, já que na forma bruta o petróleo não pode ser usado.
Esse é um dos problemas! A maior parte do petróleo usado no Brasil vem do próprio País. Ou seja, estamos falando de um lugar autossuficiente em petróleo, que praticamente não depende de importação para sustentar o país com a matéria-prima.
No entanto, ao mesmo tempo que o Brasil possui independência de petróleo, as refinarias existentes aqui não suportam a capacidade do País.
Em outras palavras, o Brasil tem a matéria-prima necessária, mas não a quantidade de refinarias suficientes para que sejam criados todos os produtos derivados de petróleo em território nacional.
A importação aumenta o preço no seu processo, e consequentemente o valor final de cada produto. Por isso, podemos dizer que um dos motivos para a gasolina ser cara no Brasil é a falta de tecnologia para o refinamento do petróleo.
A necessidade da exportação e importação
Como dito anteriormente, matéria-prima sem ser devidamente tratada não pode ser utilizada, então o petróleo sem as refinarias não pode abastecer nossos carros e caminhões.
Assim sendo, para entendermos o problema dessa necessidade de exportação e importação, vamos pensar da seguinte forma:
Se você tem uma garrafa com 1 L de água doce tirada de uma nascente e quer que ela seja comercializada, a água precisa ser tratada.
Todavia, você não possui os recursos necessários para realizar o tratamento com cloro ou filtragem da água, e por isso precisa vender essa “matéria-prima” para a empresa de água.
Após passar pelos processos necessários a água sairá tratada, rotulada e embalada. É fato que depois disso o valor daquele litro não será o mesmo de quando vendeu, certo?
O processo de tratamento tem custos com transporte, máquinas, funcionários, e mesmo sem colocar nenhum número, podemos entender que o próprio processo de exportação e importação, mesmo sendo o comprador também um fornecedor da matéria-prima, faz o produto ficar mais caro.
O mesmo acontece com o petróleo que, após passar por esse processo, é importado devidamente refinado, mas com um preço mais elevado que o vendido em barris de petróleo.
A questão do dólar
O dólar americano é a moeda mais conhecida do mundo e é também a que movimenta a maior parte dos negócios realizados.
No mercado de câmbio o dólar é a principal moeda, sendo a base para as grandes transações que movimentam a economia global.
Quando falamos de importação e exportação devemos considerar o valor do dólar para que seja possível entender o motivo de tantos reajustes e preços altos cobrados pelos combustíveis.
Atualmente, US$ 1 (dólar americano) é o equivalente a R$ 5,72 (real), e esse é o principal motivo econômico que reflete diretamente no preço do combustível.
De modo geral, o que faz uma moeda ser valorizada e desvalorizada é a “lei” da oferta e demanda. Se muitas pessoas estão comprando algo o valor sobe, mas se acaba sobrando por ter uma baixa procura, é desvalorizado.
É assim que acontece com as moedas ao redor do mundo. No caso do Brasil, a dependência de exportação em muitos aspectos, como vimos, inclusive para tratar a própria matéria-prima que é abundante no País e utilizar seus produtos derivados, resulta na desvalorização da moeda em momentos de crise.
Por isso, sempre que ocorre alguma variação no exterior o real é extremamente afetado. Entre crises políticas e oscilações no mercado, o Brasil vem perdendo investidores estrangeiros, o que reduz a quantidade de dólares investidos no mercado nacional.
Sem investimentos externos o real fica menos valorizado internacionalmente, tornando o dólar naturalmente mais caro e consequentemente deixando todas as importações mais caras também - incluindo o petróleo refinado que estamos falando.
O valor dos impostos e transporte
Não podíamos falar sobre o valor final do combustível sem mencionar os impostos. No Brasil, os tributos sobre combustíveis são responsáveis por quase 50% do valor que é pago pelo usuário final.
Em geral, o combustível possui o imposto federal e estadual, e a gasolina comum, apenas o produto em si, corresponde a cerca de 30% do valor total pago pelo consumidor final.
Isso porque o combustível sai da refinaria por um valor a cada litro, porém, é deduzida a margem de transporte e distribuição, que beira os 10%, os impostos federais, que dizem respeito a mais de 15% e os impostos estaduais, correspondentes a 27%.
Do valor total também é deduzida a margem bruta da revenda, que é o lucro de quem repassa a gasolina. Essas junções e algumas taxas variáveis dizem respeito ao valor da gasolina custar o que é cobrado do consumidor final.
É fato que existem muitos fatores que interferem nos preços, que variam de uma região para a outra e até mesmo de um posto para o outro.
Contudo, de modo geral, esse é o processo que costuma ditar o preço da gasolina, e se pudermos agora ter uma visão mais clara de algumas coisas, podemos refazer a pergunta: por que o combustível no Brasil é tão caro?
As questões socioeconômicas
Aliado ao valor das tarifas, os custos com importação e a desvalorização do real, temos um problema muito maior – o nível salarial dos brasileiros.
Em outros países a gasolina chega a ser até mais cara que no Brasil. Em contrapartida, um ponto que pode tornar esse abastecimento mais caro não é apenas o valor da gasolina, mas sim as questões econômicas enfrentadas no País.
O salário mínimo base do brasileiro é cerca de R$ 1.100 reais, enquanto em outros países, como Japão ou Estados Unidos, comparando a carga horária, o salário dentro do mesmo mês chega a ser, convertido para o real, cerca de R$ 5.000 no Japão e aproximadamente os mesmos R$ 5.000 nos Estados Unidos.
Ou seja, não é somente a gasolina que é cara, mas também os ganhos médios no nosso País que não costumam ser compatíveis com tantas coisas que precisam ser compradas diariamente - inclusive o combustível.