Cerca de 170 mil sinistros de trânsito registrados em rodovias brasileiras em 2022 tiveram como causa principal ou secundária questões rlacionadas à condição de saúde dos motoristas, no momento da ocorrência. Esse volume de colisões, capotamentos e outros desastres deixou como saldo 70,8 mil feridos e quase 8 mil mortos -- números que representam um aumento de quase 28% em relação ao mesmo período do ano passado.
A conclusão é da Associação Brasileira do Medicina de Tráfego (Abramet), que durante o Maio Amarelo 2023 chama a atenção dos condutores e autoridades para a importância da prevenção à saúde para a redução de acidentes nas vias e rodovias brasileiras. Com base na catalogação de dados coletados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), os médicos do tráfego reuniram os acidentes em categorias mais recorrentes, entre elas a falta de atenção, ingestão de álcool e substâncias psicoativas, sonolência do condutor e o mal súbito.
Para o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior, as condições de saúde dos condutores são extremamente relevantes para a segurança do trânsito. “Observamos que um terço dos mortos e feridos nas rodovias monitoradas pela PRF podem ter sido acometidos por problemas como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio ” pontua.
Para ele, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas destinadas à redução dos indicadores e reforça o estímulo à realização periódica do Exame de Aptidão Física e Mental pelo motorista, mecanismo considerado decisivo para a redução da mortalidade no trânsito. Para além do Maio Amarelo, lembra o presidente da Abramet, é preciso investir em campanhas permanentes de conscientização e fiscalização.
Fonte: PRF. Elaboração: Abramet/360°CI
Saúde e direção
A falta de reação, resposta tardia ou ineficiente ao volante, à propósito, foram as principais causas de mortes e ferimentos, segundo o levantamento. Mais de 50,2 mil pessoas ficaram feridas e outras 5 mil morreram em cerca de 119 mil sinistros ocorridos em 2022 por falta de resposta imediata às circunstâncias que comprometeram a direção. “Diversos fatores podem comprometer o tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo do condutor”, alerta o diretor científico da Abramet, Flavio Adura.
Através de orientações e aconselhamentos, explica Adura, o médico do tráfego pode auxiliar na identificação de motoristas com risco de se envolverem em acidentes de trânsito e auxiliá-los a dirigir com segurança. “É muito importante afastar da direção de um veículo condutores que possuem problemas de saúde que interfiram na direção veicular segura”, acrescentou.
A ingestão de bebida alcoólica é a terceira causa mais frequente, no que diz respeito à saúde de quem conduz. Foram mais de 28,6 mil sinistros nas rodovias, só no ano passado, que deixaram um saldo de 10,8 mil feridos e pelo menos 1,2 mil mortos. “Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso, já não seria pouco, mas também reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos, reduz a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação”, alerta Flavio Adura.
Outra condição de saúde que mais aparece no levantamento é o sono. Este fator motivou, segundo a PRF, 961 mortes e deixou 7,5 mil feridos em 2022. Em comparação com o ano anterior, o número de sinistro relacionados ao sono aumentou em 25%. Completam o trabalho, o chamado mal súbito -- perda de consciência devida mais frequentemente a doenças cardiológicas (infarto, arritmias) e neurológicas (AVC, convulsões) --, com mais de 2 mil mortos e feridos.
Fonte: PRF. Elaboração: Abramet/360°CI
Fator humano
Em termos globais, as informações contemplam apenas os sinistros registrados nas estradas e rodovias sob supervisão da PRF. Não foram contabilizados, portanto, transtornos em colisões que aconteceram em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avalia o presidente da Abramet, “o quadro pode ser muito pior, pois um número importante de colisões não entra nas estatísticas”.
Segundo os dados analisados, 80% dos sinistros foram motivados exclusivamente pelo chamado fator humano. Além das causas relacionadas direta ou indiretamente à situação clínica dos condutores (fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio), são comuns as fatalidades relacionadas à imprudência ou transgressão às leis de trânsito.
Os sinistros de trânsito são eventos não intencionais, evitáveis, causadores de lesões físicas e emocionais. Neste trabalho verificamos ainda que é possível atribuir ao fator veículo 5%; e 13% aos fatores via e ambiente. Dentre estes fatores intervenientes e causadores dos sinistros, o comportamento humano é destacadamente o grande responsável, até mesmo porque como a manutenção é responsabilidade do condutor e as falhas no veículo em alguns casos também deve ser vinculada ao fator humano” comentou o diretor científico.
Foto: divulgação
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