Antonio Megale, presidente, e Luiz Carlos de Moraes, vice-Presidente, ambos da Anfavea, falaram da retomada do setor automotivo.
Revista Caminhoneiro – Como começou o ano para o segmento de caminhões?
Antonio Megale – O mercado de caminhões iniciou este ano com crescimento expressivo de 55% das vendas em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, aquele sim foi um início de ano difícil para o setor, que na ocasião registrava o pior janeiro desde 1996 em termos de volume de vendas. Embora o total vendido no mês que abre o ano não seja o melhor – foram emplacados pouco mais de 4,5 mil caminhões – ainda assim o efeito desse resultado animou as montadoras, que após quatro anos consecutivos de queda apostam na consolidação do crescimento do setor a partir de agora. Gostaria de salientar também que foram fabricadas 216,8 mil de autoveículos montados no mês de janeiro, volume 1,5% superior ao de dezembro e o maior patamar para o mês desde 2014. O crescimento na comparação mensal é pequeno, mas ainda assim é um número bom. Sobre janeiro do ano passado a evolução foi ainda maior, de 24,6%.
Caminhoneiro – Geralmente, janeiro é fraco para o segmento de caminhões?
Megale – É verdade. Historicamente é um mês mais fraco em termos gerais de vendas, ao mesmo tempo em que dezembro é mais aquecido, os chamados efeitos da sazonalidade. Sendo assim, o volume de janeiro ainda ficou bem abaixo da média dos últimos dez anos. Em janeiro de 2018 foram 4.447 unidades contra 5.915 em dezembro de 2017. Se comparado a janeiro de 2017 que registrou 2.847 unidades ocorreu um incremento de 56,2%. É um crescimento bastante razoável, mas com uma base de comparação muito baixa. O importante é que voltamos ao crescimento e começamos o ano melhor do que 2016 e 2017.
Caminhoneiro – O setor automotivo é muito importante para alavancar a economia do País?
Megale – Sem dúvida, mas espero que outros setores da nossa economia também continuem crescendo. O Brasil precisa crescer economicamente. O País precisa se desenvolver. Não é saudável ter somente um setor puxando a economia. É obvio que ele é importantíssimo, mas é fundamental o desempenho também dos demais. A questão da construção civil ainda está andando meio de lado, ela precisaria retornar o seu crescimento.
Caminhoneiro – O plano de renovação de frotas deixará de ser apenas um sonho?
Megale – Torcemos para tal. Achamos ele fundamental e precisa ser feito. Temos um grupo que trabalha nesse sentido. Precisamos substituir os veículos fora de condições de circularem que também causam problemas ambientais e de segurança. O Brasil precisa ter uma frota mais nova. São duas linhas nesta questão: a inspeção técnica veicular que acredito que irá colaborar e acabar obrigando uma renovação da frota e a própria renovação da frota em si que ainda estamos trabalhando no equacionamento dela. Porém, acreditamos que nos próximos anos ela será viável. Iniciando pela área de caminhões, mas depois um programa para todos os setores.
Revista Caminhoneiro – Não foi só na Fenatran/2017 que o segmento de caminhões/ônibus deu bons sinais?
Luiz Carlos de Moraes – Sim, o mês de janeiro provou que o ambiente de negócios está muito mais favorável do que nos anos anteriores. Parte do que se vendeu em janeiro ainda é reflexo do que foi negociado na Fenatran/2017, em outubro passado, efeito que deve refletir nos emplacamentos até março. Existem alguns fatores que melhoram a confiança e a expectativa do empresário, seja de grandes corporações ou de micro, pequenas e médias empresas, como o próprio PIB, cuja expectativa de crescimento para este ano gira para o crescimento entre 2,5% e 3%, e com efeitos que já são sentidos pelo setor de caminhões.
Caminhoneiro – Como o executivo vê as iniciativas de financiamentos do BNDES?
Moraes – Com bons olhos, como exemplo o BNDES Automático que diminui a burocracia de aprovação do crédito, tornando a operação mais rápida. Enfim, os financiamentos estão ficando mais atrativos com prestações que cabem no bolso do transportador. Conforme a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (ANEF), no segmento dos veículos pesados, o Finame foi responsável por 61% dos contratos, seguido pelo CDC (20%), compras à vista (10%), consórcio (6%) e leasing (2%).
Caminhoneiro – Além do agronegócio existem outros segmentos que estão reagindo?
Moraes – Sim, os segmentos de semileves, leves e médios. O varejo está começando a crescer por conta da distribuição maior nos centros urbanos. Os setores como o de bebidas e químico denotam que outros segmentos da economia estão reagindo positivamente. Tudo evidencia que estamos no caminho de crescimento com as projeções para o ano. Então, setores que estão mais parados já começaram de forma gradativa a retomada.
Caminhoneiro – Este ano, como ficam os segmentos de pesados e extrapesados?
Moraes - A maior parte desta reação que estamos sentido vem do agronegócio. Todos sabemos que é o segmento que trabalha utilizando caminhões pesados e extrapesados. Este setor vai continuar impulsionando a economia como um todo, neste, ano e em especial o mercado de caminhões.
Caminhoneiro – As exportações ainda continuam sendo importantes às montadoras?
Moraes -Por causa da situação difícil no mercado interno nacional nos últimos anos, as empresas procuraram clientes lá fora. A ideia é ter um mix equilibrado entre mercado interno e exportação justamente para quando houver volatilidade, ter uma produção mais equilibrada. Não há um consenso, mas há montadoras que defendem que o ideal deveria ser de 40% do volume de produção destinado às exportações. As vendas externas também apresentaram um desempenho robusto. No primeiro mês do ano, os embarques cresceram 83,1% sobre janeiro do ano passado, para 1.950, contra 1.065. Na comparação com dezembro de 2017, porém, quando as exportações somaram 2.148 caminhões, a queda foi de 9,2%.
Caminhoneiro – As montadoras de um modo geral estão recontratando?
Moraes - A retomada da produção automotiva impulsionou também o nível de emprego no setor. Foram contratadas 676 pessoas, elevando o número de funcionários das montadoras para 128,9 mil trabalhadores. Ainda que de forma lenta e gradual, as montadoras estão em processo de aumentar o ritmo das suas plantas.