Uma filosofia simples que traz grandes resultados: a empresa ganha na redução de acidentes e aumento da produtividade e os caminhoneiros em salário e condições de trabalho.
Uma distribuidora de gesso estava indo muito bem, mas gastava cerca de R$ 100 mil por mês com transporte que era terceirizado. Depois de analisar a situação, em 2002, decidiu comprar dois caminhões Volvo, com três anos de uso e um International zero. A ideia deu certa e a frota de caminhões foi crescendo até os 80. Hoje reduzidos a 55, em sua maioria bitrens. Isso porque 70% do valor do gesso é de frete.
“Em 2010, a gente ia renovar o seguro dos caminhões e eu reclamei com o corretor porque o valor da renovação estava muito alto”, explica Antonio Gilmar Palma Ferreira, proprietário da Gemark. “Como opção para reduzir o valor, o corretor disse para colocar aquelas bolas adesivas na carroceria, pintar o chassi dos caminhões com aquelas cores chocantes, mas eu não queria nenhuma dessas soluções”.
Conversando com os funcionários, um deles sugeriu que se fizesse pintura com aerografia. Ferreira não conhecia a aptidão do jovem e pediu que ele trouxesse algum material que ele tivesse pintado. “Quando eu vi o trabalho do garoto, disse que ele deveria estar expondo em uma galeria de arte”, lembra o proprietário da Gemark.
Encantado com o que viu, decidiu apostar no rapaz e comprou um aerógrafo, tintas e cedeu um Scania, 2010, zero quilômetro para ser o primeiro veículo aerografado. “Quando vi nosso artista lixando a carroceria novinha do Scania, suei frio”, conta sorrindo Ferreira. “Ele começou a rabiscar de um lado, depois do outro, e a ideia inicial era que saísse a Fênix, ave mitológica que ressurge das cinzas. Mas eu não conseguia ver nada nos riscos. Mas esperei. O resultado final ficou lindo. Uma obra de arte e eu passei a pintar todos os caminhões. Faltam alguns ainda”.
Com isso, o prêmio do seguro ficou mais baixo. Se um ladrão roubar um caminhão com a pintura exclusiva, terá que repintar a carroceria inteira, o que não fica barato. Outro fator positivo é que encontrar um caminhão com essas pinturas é muito mais fácil.
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Motoristas
Os motoristas adoraram a ideia e cuidam ainda mais dos veículos que ficam o tempo todo com eles. Quando chega um caminhão novo, o motorista é consultado sobre o que gostaria de ver pintado nele. E aí a imaginação não tem limites. “Já temos o Homem Aranha, o Gordo e o Magro, dois Transformers, o Rei Leão, o Motoqueiro Fantasma e o Homem de Ferro”.
“Nós pintamos o Homem de Ferro em um Scania e na primeira viagem o motorista foi parado pela Polícia Rodoviária”, lembra Ferreira. “O motorista foi parado e disse que o policial fez questão de fotografar o caminhão, pois o filho dele era fanático pelo Homem de Ferro”.
A pintura no caminhão é apenas mais uma estratégia em uma empresa que trata seus motoristas como sócios, e não como empregados. “Nós não temos visão de transportadora”, explica o proprietário da Gemark. “A gente não vê um motorista como ferramenta de trabalho. Nós o vemos como uma pessoa que precisa ter as melhores condições de trabalho, tem que relaxar e dormir bem para poder desempenhar com eficiência seu trabalho”.
Por isso, a maioria dos caminhões da Gemark tem ar condicionado, câmbio automáticos e a maioria com teto alto. Antes de comprar um caminhão, a empresa pensa nos recursos que ele oferece, no conforto do motorista, nas facilidades que podem ajudar no dia a dia.
A preocupação tem uma explicação. Cada motorista dirige um patrimônio de R$ 500 mil. Por isso, a filosofia da empresa prega que ele tem que ganhar bem, ter o melhor equipamento para trabalhar e uma jornada decente, que não canse em demasia.
Os motoristas rodam com rodotrem e tem a ordem de ao escurecer parar. “Peço a cada motorista que deem duas viagens por mês na rota São Paulo/Nordeste”, diz Ferreira. “Não adianta pedir três ou quatro viagens por mês, pois força o equipamento e expõe os motoristas a mais riscos. Em 16 anos só houve três acidentes e todos de pequeno porte”.
Oswaldo Batista de Macedo tem 44 anos, 22 de profissão e está na Gemark há 10 anos. “Cada viagem são 3.000 quilômetros, mas é tranquilo”, diz Macedo. “Escureceu a gente para e toca no dia seguinte, mais descansado. Transportamos em média 48 toneladas de gesso e temos um salário fixo e comissão”.
Marlon Franca, 36 anos e nove de caminhoneiro, explica que com a comissão os motoristas sentem-se mais estimulados, mas nem por isso exageram. “Trabalhamos das 6 às 18 horas”, explica Franca. “Para o Nordeste a gente sobe tranquilo, mas tranquilo mesmo. Entre uma viagem e outra ficamos dois ou três dias em casa e nas férias o caminhão fica parado em casa”.
Ferreira afirma que deixar os caminhões parados na casa dos motoristas até pode gerar perda de dinheiro, porém, é recompensado com a qualidade de vida do motorista que tem um desempenho melhor. “Ele pode se programar para ter uma vida social e familiar e o resultado vem de outra forma,” diz Ferreira. “Se o motorista está satisfeito, não tem motivo para roubar diesel, estourar pneu, adulterar o tacógrafo e assim por diante”.
Os motoristas da Gemark são contratados apenas por indicação. Na entrevista, Gilmar Ferreira explica para o candidato que ele será o sócio da empresa. Ele responderá por 33% e a empresa só dará resultado se ele fizer a parte dele. Se não fizer, “troca-se o sócio”.
Por todo esse conjunto de medidas é que o ambiente na Gemark é muito bom. Tanto assim, que o dono e o filho estavam juntos com quatro “sócios” em um encontro de caminhoneiros. Todos aproveitando momentos de descanso, se divertindo com responsabilidade sabendo que no dia seguinte cada um tem uma tarefa a cumprir e que quanto melhor executada a tarefa, melhor serão os ganhos para todos.
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