Ninguém mais do que os caminhoneiros querem ver as estradas limpas de bêbados e drogados. Afinal, quando um desses indivíduos cruza o caminho de um caminhoneiro e não consegue controlar seu veículo, é morte na certa. E o pior. Sempre quem leva a culpa é o caminhoneiro que, muitas vezes, joga o próprio caminhão e a vida fora da estrada para tentar evitar a tragédia.
Por isso, todos eles concordam com a obrigatoriedade do exame toxicológico para motoristas profissionais, mas não do jeito que o Governo está tentando implantar. A implantação está sendo tão mal feita, que 12 estados conseguiram liminares para não exigir o exame.
Isso significa que 12 juízes, pessoas altamente capacitadas, estudadas, vividas e com notório saber não concordaram com uma série de questões levantadas por várias entidades contra a medida.
A principal queixa é pagar por um teste para provar que o caminhoneiro é inocente. Não se droga. Já que o Governo diz que irá reduzir os acidentes com essa medida, porque não banca o exame com o dinheiro que irá economizar no atendimento das vítimas desse acidentes evitados? Ou então, por que os sindicatos dos caminhoneiros não pagam essa conta? Seria uma maneira de retribuir as contribuições que recebem.
Por que o Governo não ataca as causas do uso de drogas nas estradas, em vez de tentar atacar os efeitos. Não precisa ser detetive para descobrir os fornecedores dessas drogas. Por que o Governo não faz blitzes em pontos onde todo mundo sabe que “é mais fácil encontrar cocaína do que pão”, segundo dizem brincando os caminhoneiros? É perigoso, nossa Polícia não está aparelhada para enfrentar os traficantes? Tudo bem, uma tarefa mais simples: faça blitzes maciça e verifiquem os tacógrafos. Mas não é olhar se tem. Tem que pegar o disco, ver se o caminhoneiro está dirigindo a mais de quatro horas e se tiver: multar. Além disso, segurar esse motorista pelo triplo do tempo em que excedeu às quatro horas. Ou seja, se estiver dirigindo a seis horas, duas a mais do permitido, terá que ficar seis horas parado além de receber multa. Com isso, a empresa que libera seu motorista para dirigir além do horário será duplamente penalizada e o autônomo terá a mesma punição.
Em cinco anos tudo pode mudar. O que adianta este exame hoje, se no dia seguinte o caminhoneiro pode tomar e cheirar todas sabendo que só terá que repeti-lo daqui a cinco anos? Por que não fazer esse exame a cada ano? É claro que bancado pelo Governo ou pelo sindicato. Ou ainda, exames na própria estrada. Uma equipe especializada retiraria amostras, anotaria todos os dados do caminhoneiro e depois enviaria o resultado. Caso desse positivo, o caminhoneiro receberia uma carta pedindo que ele entregasse a CNH.
Soluções existem.
O que falta é vontade para resolver o problema e ainda torná-lo rentável. O exame toxicológico é bom e eficiente, mas não da maneira como está sendo aplicado. O caminhoneiro tem que pagar, no mínimo R$ 300,00 para mostrar que está “limpo”, que é honesto, nem que depois de 15 minutos cheire uma carreirinha.
E o pior de tudo. Além de pagar, ainda pode ser acusado de drogado injustamente, como já aconteceu com um caminhoneiro que perdeu o emprego porque a máquina se enganou, deu “falso positivo”.
Como escrevi no início do texto, os caminhoneiros são os maiores defensores do exame toxicológico, desde que seja bancado pelo Governo ou sindicatos, tenha uma periodicidade menor e seja 100% eficiente, ou que, pelo menos, não se divulgue o resultado positivo antes da contraprova. Se isso tivesse sido feito, teríamos um caminhoneiro a menos desempregado. O laboratório acusa e depois vai fazer a contraprova. Os caminhoneiros, em sua maioria, são inocentes. Mas nem um deles é idiota.
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