Quando vi na Alemanha o caminhão Mercedes que “anda sozinho”, mais recentemente a Scania mostrou seu caminhão autônomo e a Volvo e outras montadoras vão pelo mesmo caminho, pensei: será que a profissão de caminhoneiro tem futuro? Com a tecnologia evoluindo dia a dia, o embarcador carregará o caminhão, dará um comando e o caminhão só irá parar quando chegar no destinatário.
Tudo bem, posso estar exagerando. Acredito que o ser humano sempre terá que estar presente. Nem que seja para ligar e manobrar o veículo até colocá-lo em uma rota programada. Mas quem será esse motorista? Um cara barrigudo, com meia barriga pra fora da camiseta, calção largo, faltando pano ou elástico atrás, chinelão de borracha precisando meia sola, barba por fazer, cabelo mal lavado e mal arrumado, unhas pretas, principalmente a do dedinho, muito utilizada como chave de fenda?
E ainda que fosse essa figura, onde encontrar pessoas dispostas a virar noite, rodar horas e horas, suportar frio, calor, achaque de policiais, desrespeito de porteiros, buracos, ladrões, para no final do mês trazer um salário que não cobre as necessidades básicas?
Caminhoneiro tem futuro? Eu tenho certeza que sim. E digo isso depois de ver um menino de 1,5 ano no colo do pai, balançando as perninhas e imitando o barulho do motor, toda vez que um caminhão passava por nós. Ou então, quando vejo o brilho nos olhos de uma criança ao sentar no banco de um caminhão e virar o volante como se estivesse dirigindo. Ou ainda, quando escuto um garoto de 13 anos falar: “quando crescer vou ser caminhoneiro como meu pai”. E fala com orgulho, abraçando aquele homem de mãos calejadas, com noites mal dormidas e muita conta para pagar.
Esses jovens nada se parecem com aquele motorista barrigudo com camiseta baby look. É preciso prepará-los. Educá-los, instruí-los. Mostrar a eles que a estrada é difícil para quem se acovarda. Para quem abaixa a cabeça para as injustiças. Eles devem lutar. Serem unidos. Não adianta brigar entre si e saírem todos derrotados com os embarcadores dando risada.
Mas para isso, é preciso estudo, cursos e mais cursos. Aprimorar-se sempre. O caminhoneiro do futuro será formado em engenharia, logística, relações públicas, administração. Andará bem vestido, bem arrumado. O importante é o que ele sabe, mas o visual é um belo abre alas.
Com certeza eu não verei os caminhões autônomos rodando no Brasil. Mas gostaria muito de ver os novos caminhoneiros. Educados, lutando pelos seus direitos. Na Suécia, encontrei um caminhoneiro que me disse: sou engenheiro mecânico. Acabei a faculdade, entreguei o diploma para meu pai e cai na estrada. Ele era dono de um Scania comprado zero quilômetro, ganhava R$ 8.000,00, era casado com dois filhos e, principalmente: era feliz.
É esse caminhoneiro que temos que preparar. Temos futuro, mas...
