Ninguém quer largar seu país, sua família e tudo que construiu em muitos anos de trabalho para viajar até um país desconhecido e começar do zero. Apesar disso, por sentirem que a profissão não é mais valorizada como antes, muitos caminhoneiros estão procurando por informações sobre como trabalhar no exterior, com uma qualidade de vida maior. “Há uns três ou quatro anos, batalhando muito, era possível conseguir uma renda média mensal de R$ 4.000,00. Hoje, tenho até vergonha de dizer que, ralando muito, consigo tirar R$ 2.000,00 por mês”. A frase acima é do caminhoneiro Alberto Diogo Giusti, que está há mais de 40 anos no mercado e não quer mais ver o frete diminuir e impostos e o diesel aumentarem. O homem de 62 anos passou por muitas situações em que o caminhoneiro foi desvalorizado, por isso resolveu tentar a vida em um novo país.
O salário do motorista de caminhão no Brasil, de fato, é muito inferior ao de profissionais em outras regiões do mundo, principalmente na Europa. Essa foi a principal razão para Giusti largar tudo e fazer o caminho de volta dos seus ancestrais: ir para Portugal. Além disso, o caminhoneiro lembra que tem familiaridade com o castelhano e com o inglês. “Existe uma carência de motorista profissional na Europa”, comenta ele. “Aqui não tenho o menor estímulo. Arranho um pouco o castelhano, devido às minhas viagens pelo Mercosul, e entendo um pouco de inglês. Isso vai facilitar um pouco”. Apesar da vantagem financeira, é importante lembrar que não é só arrumar um emprego fora do país, comprar um caminhão e trabalhar. “É preciso levar uma boa soma de dinheiro, pois a expectativa para regularizar toda a situação (de documentos) é de, no mínimo, 12 meses”, adverte Giusti.
O caminhoneiro no Brasil é contratado de forma diferente ao mesmo profissional na Europa. Aqui, uma pesquisa do Perfil do Caminhoneiro revelou que cerca de 69% dos motoristas de caminhões são autônomos. Na Europa, por outro lado, eles abrem uma empresa independentemente da quantidade de veículos. “Em Portugal, não existe o autônomo como conhecemos aqui. Todo caminhoneiro tem que abrir uma empresa. É uma empresa de um caminhão, mas é empresa. O caminhoneiro é ‘empresário’, não autônomo”, conta Giusti, que acredita em um modelo muito mais eficiente fora do país.
Os documentos específicos podem variar de país em país e por isso, uma viagem definitiva para o exterior requer cautela e muita atenção. É importante também juntar uma quantia em dinheiro para suprir gastos enquanto o caminhoneiro está impedido de trabalhar. “Os exames médicos para motoristas são muito rigorosos. Como minha habilitação é categoria E, há muito tempo, isso facilita as coisas, mas mesmo assim, o processo é demorado, talvez um ano”, comenta Giusti sobre a sua experiência nessa situação.
Além da falta de valorização, os caminhoneiros enfrentam outros problemas que parecem sem solução. Outro motorista de caminhão, Cássio Paulo Dalfior, enxerga as estradas brasileiras como mais um motivo para a desvalorização com a profissão. Ele afirma que possuir um caminhão próprio é rezar para que ele não quebre, porque se isso acontecer, certamente não vai ter dinheiro para custear uma manutenção cara no veículo. Além disso, em diversas estradas no Brasil é extremamente perigoso realizar o transporte de cargas. “O Rio de Janeiro era minha rota. Minha família é do Espírito Santo. Vi muita violência. Pessoa assassinadas, sequestradas. Conheci um garoto, de 22 anos, que foi morto por nada. Ele não parou e os ladrões atiraram”, relembra Dalfior.
Mas como trabalhar em outro país e fazer tudo isso dar certo? No caso de Dalfior, ele também escolheu Portugal, porque existe a possibilidade de trocar a carteira de motorista profissional daqui no Brasil por uma do país europeu. “Dei entrada nos papéis em Portugal, troquei minha entrada de turista para residente, fui ao consulado e pedi a validade da minha habilitação. Fiz vários exames e acabei trocando minha carteira de motorista para carteira profissional”. No caso de Portugal, é importante salientar que é necessário realizar um curso e comprovar tanto a residência no país como ter em mãos o registro de cidadão europeu. Se isso não for possível, existe a possibilidade de alugar uma casa e assim dar entrada no pedido de residência, possibilitando o restante do processo. Se feito da forma correta, trabalhar no exterior pode se tornar algo extremamente positivo para os caminhoneiros. Mas antes de se aventurar nessa viagem, é importante ter conhecimento dos documentos necessários e calcular todos os valores que serão gastos, evitando surpresas e novidades desagradáveis em outro país.
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