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Donos de grandes transportadoras que eram caminhoneiros

Por Revista Caminhoneiro em 23/08/2017 às 17:40
Donos de grandes transportadoras que eram caminhoneiros

ANTES DE CONSTRUÍREM SEU NEGÓCIO, MUITOS DONOS DE GRANDES TRANSPORTADORAS DE CARGA DO BRASIL PASSARAM PELA ENRIQUECEDORA EXPERIÊNCIA DE SEREM CAMINHONEIROS. No dia 25 de julho é comemorado o Dia do Motorista e também o Dia do Caminhoneiro

A categoria é lembrada na data em que se homenageia São Cristóvão, o padroeiro deste profissional. Esse dia foi instituído no Brasil por meio do Decreto nº. 63.461, de 21 de outubro de 1968.
A associação se deve ao fato de que Cristóvão, era gigante que ajudava os outros a atravessar um rio. Um dia, ao transportar em seus ombros um menino, sentiu que a cada passo ele ficava mais pesado. Ao acabar a travessia, disse que havia transportado o peso do mundo. Então, o menino respondeu-lhe que havia carregado o criador do mundo em seus ombros. Passou a ser invocado pelos condutores. Diz-se que se tornou Padroeiro dos Motoristas após um pedido da rainha Margarida de Sabóia, que creditava a fé no santo, a ter escapado ilesa de um grave acidente de carro na Itália, no início do século XX. No mundo inteiro imagens e medalhas e orações a São Cristóvão passaram a ser muito difundidas entre os profissionais do volante.
Caminhoneiro sempre foi profissão de fibra e resistência. Muitos dos grandes transportadores brasileiros de carga da atualidade, antes de construírem seu negócio, já dirigiram seu próprio bruto em tempos passados, comeram em cima da caixa de ferramentas e dormiram, em noites quentes, debaixo do caminhão. Selecionamos a seguir algumas histórias que abrilhantaram e fortaleceram ainda mais esta profissão, através dos tempos.  POEIRA E VITÓRIA
Era o ano de 1970 e a rodoviária de Ribeirão Preto, cidade do Oeste Paulista, fervilhava de ônibus e de pessoas. João Braz Naves, na época com 19 anos, vendia passagens de ônibus de uma das companhias locais de transporte de passageiros. Esperto que só, o rapazote observava o intenso movimento de cargas no porão dos ônibus. “Havia muita procura e eu me indagava o por quê”, lembra.
Percebeu logo que a rapidez era o motivo e que ali estava o embrião de um bom negócio, já que os clientes levavam os pacotes até a rodoviária e não havia o serviço de coletas e entregas. Como bom mineiro, João deve ter pensado duas vezes, considerando que era casado e tinha três filhos para criar, mas oportunamente achou que era hora de arriscar: largou o emprego de bilheteiro e alugou um pequeno box de 10 metros quadrados na rodoviária, para instalar sua loja de despachos de cargas, que batizou de RTE Rodonaves. Agora precisava apenas de um meio de transporte apropriado para buscar e levar as encomendas nos destinos. Foi quando Naves comprou, a prazo, seu primeiro veículo, uma bicicleta Brandani, que foi batizada de “charmosinha” e, com ela, espalhava barro pelas ruas da cidade, entregando e recolhendo pacotes e amizades. Naves se recorda que, em apenas três meses, as pedaladas já não davam mais conta do recado e a saída foi investir as economias no primeiro veículo de transporte, uma Kombi ano 71. “Tive de contratar um funcionário pra me ajudar e ele assumiu a bicicleta”, detalha. E na direção da Kombi, João Naves buscava novos caminhos para seu negócio. “Não foi nada fácil”, adverte. “Eu dirigi a mesma Kombi por sete anos, chegou a fundir o motor e tive de fazer a retífica nela”, conta. A RTE Rodonaves ia crescendo e João arriscou a compra de mais duas Kombis e a contratação de novos funcionários. Ao longo da década de 80, João Naves tratou de estreitar relacionamentos com diversas empresas, melhorando a qualidade de seus serviços e fazendo entregas mais rápidas e eficientes. Em 4 de janeiro de 1994, João teve uma decisão assertiva: deixou de prestar serviços a outras empresas, passou a investir em veículos próprios e fazer suas linhas em toda a região. Buscou um novo parceiro para atender o sul de Minas, a PTE Paulineris, que tinha apenas um caminhão Toco sem baú, alugado e que era coberto com uma lona, mas deu conta do recado, fazia as entregas com eficiência. O próprio João carregava e descarregava as mercadorias, fazia as entregas nas regiões e realizava disputas da produção com seus motoristas.
“Era uma realidade diferente, havia mais respeito, mais felicidade. Dávamos mais valor à atividade e mais atenção à direção nas estradas”, rememora.
Os anos foram passando e as demandas de transporte crescendo. João já atendia 27 municípios no entorno de Ribeirão Preto, a RTE Rodonaves ocupava uma sede maior e contratava novos funcionários. Em 1994, o empresário comprou seus primeiros caminhões Mercedes-Benz zero quilômetro. Ele se emociona ao lembrar a inauguração da primeira sede própria da transportadora, em 1998, no bairro Lagoinha, em Ribeirão Preto, com 14 mil m2 e 4 mil m2 de edificações. Em 2004 a expansão seguiu para a região Sul, atendendo os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2015 a empresa inaugurou sua nova sede em Ribeirão Preto e hoje a Rodonaves está presente em doze estados, além do Distrito Federal, conectando mais de três mil cidades e mais de seis mil famílias. Esta saga separa o jovem e intrépido empreendedor e caminhoneiro de ontem do dono de uma das maiores empresas de transporte de carga fracionada do País, a RTE Rodonaves. Homem determinado e de fala mansa, João Naves preserva ainda hoje a simplicidade no trato com caminhoneiros agregados que trabalham para a empresa.
“Há alguns anos criamos um projeto de incentivo operacional para caminhoneiros agregados. Se trabalhassem conosco durante dez anos, lhes seria disponibilizada a compra financiada de um dos caminhões seminovos da RTE Rodonaves”, detalha. “O programa atraiu mais de 50 adeptos, que acabaram criando pequenas empresas de transporte”, regozija-se o empresário.
João Naves continua incentivando esses caminhoneiros e manda o recado para quem acredita no seu taco empreendedor: mais que nada é preciso gostar do que faz e querer ser o melhor na atividade. É preciso ser dedicado, humilde e fiel ao negócio, além de manter uma boa aparência para as interações de trabalho e saber aproveitar as oportunidades em empresas que valorizam o ser humano.
“Tudo isso agradeço a Deus, minha família e em especial a minha esposa Vera, que há 31 anos encarou os desafios e superou todas as dificuldades que a vida nos proporcionou. Além de esposa, mãe e sócia Lea é craque em gestão financeira. Vencer na vida não é apenas ter dinheiro, mas também amar o que faz e fazer o que gosta,” diz  
NO BANCO, MAS DO MOTORISTA O pequeno Laurindo Cordiolli, de apenas 14 anos, avistava o fluxo de caminhões que passavam pela estrada, ao lado da plantação de café de seu pai, em Maringá, no Paraná. Recém-chegado da cidade de Lusitânia, interior paulista, onde havia nascido, o garoto ajudava na roça e, quando tinha qualquer oportunidade, corria para a estrada para ver modelo, motor e tamanho dos caminhões que por lá passavam.
O menino acabou ficando craque em marcas e potências de veículos pesados e ali, sem perceber, semeava um grande futuro.
Laurindo Cordiolli com determinação.
Diante das vicissitudes inerentes ao plantio, o obstinado Laurindo pensou em ajudar os pais de outra forma, trabalhando no Banco do Brasil. Aos 17 anos, fez o concurso e conseguiu a primeira colocação. A alegria durou pouco quando o contratante descobriu que o rapaz não possuía diploma da quarta série do ensino fundamental. “Eu tinha de ajudar meus pais na roça e não sobrava tempo para terminar os estudos”, conta, lembrando o tamanho da decepção. “Mas Deus não fecha uma janela sem abrir uma porta”, diz. Justamente por não haver conseguido a vaga no banco, Laurindo foi trabalhar no armazém de secos e molhados e, em 1956, aos 18 anos, conseguiu tirar sua carteira de motorista.
“Com ela, se abriu um novo caminho”, diz.  Primeiro dirigiu um caminhão Ford F600, ano 1954, para o dono do armazém. Em seguida, juntando economias suas e do pai, comprou seu primeiro caminhão, um Mercedes 321, ano 1958. Hoje Cordiolli tem uma coleção de veículos antigos e recentemente conseguiu comprar uma versão idêntica do antigo caminhão. “Às vezes olho pra ele e acho que é o meu daquela época”, revela.
Com ele, Laurindo puxou muito forro de pinho para a construção de casas em Brasília (DF), em 1961. A empresa Cordiolli Transportes foi aberta há exatos 40 anos, em 1977. De lá para cá, ele permaneceu por 37 anos no banco, mas como motorista de caminhão, transportando grãos e carga seca. “Sempre gostei da rotina da estrada, fazer entregas, negociar preços e, no fim da jornada, retornar para casa”, relata, lembrando que mesmo na época da inflação era possível contornar as dificuldades. Com um detalhe importante: Laurindo nunca levou uma multa. Hoje a Cordiolli Transportes é uma das companhias integrantes do G10, de Maringá, opera com 202 caminhões pesados e mantém mais de 400 funcionários na ativa. "Faria tudo de novo se pudesse”, comenta, sem titubear. Mas para caminhoneiros de primeira viagem, sua mensagem é oposta: “Hoje está tudo mais difícil, a começar pelo financia- mento do caminhão. Sem financiamento é praticamente impossível comprar um bom caminhão, a não ser que o indivíduo venda um bem de família, o que não aconselho. Eu nunca vendi nenhum dos meus bens para essa finalidade”, adianta. “Mas se for trabalhador certamente vai conseguir. A vida de caminhoneiro dá dinheiro, pois nunca se trabalha a fundo perdido, o frete estará sempre lá, garantido”, avalia, ainda que há tempos Cordiolli não veja os novos motoristas de caminhão com o per- fil de antigamente. “Hoje são profissionais de famílias financeiramente estruturadas, que mal sabem regular um freio, o oposto da minha geração”, diz. ATRÁS DO SONHO Em 1984, ainda estudante de Administração de Empresas na cidade de Juiz de Fora (MG), o então jovem e irrequieto Eduardo dos Santos buscava trabalho para se manter na faculdade. Filho de caminhoneiro e conhecedor desse mercado, começou a fazer pequenas coletas e entregas locais, usando para isso seu próprio fusca e uma bicicleta. À distância, seu pai, Camilo dos Santos Junior, acompanhava o movimento do filho e, em 1984, lhe ofereceu um caminhão Mercedes-Benz 1313, ano 77, para reforçar suas operações. Eduardo topou na hora e conduzindo o veículo iniciou uma bem sucedida jornada no transporte de cargas fracionadas entre a cidade mineira e a capital paulista. Com os dias tomados pela universidade, Eduardo dirigia seu próprio caminhão à noite. Viagem vem, viagem vai, foi aplicando seus conhecimentos acadêmicos nas possibilidades logísticas do trajeto até criar um serviço de coleta e entrega entre as duas cidades em 24 horas, uma grande novidade para a época, que fez as demandas crescerem rapidamente e originarem a empresa Rodoviário Camilo dos Santos Junior. Eduardo Santos conduziu seu próprio caminhão durante um ano e oito meses. Já em 1994, a empresa somava 12 caminhões e aten- dia 20 municípios da região. O nome homenageia o pai, que também foi caminhoneiro. Com sede em Juiz de Fora (MG), a transportadora tem hoje 220 caminhões, mais de 500 funcionários e movimenta cargas fracionadas porto da a região Sudeste do País, onde se espalham as seis filiais da transportadora. Eduardo admite que parte de seu suces- so profissional se originou de um sonho infantil. Lembra que, ainda criança, adorava sair de copiloto no caminhão do pai e, já adolescente, dirigiu inúmeras vezes o veículo. Também montava e desmontava motores. Seu Camilo, no entanto, fazia de tudo para que seus seis filhos tivessem um futuro melhor que o seu. E conseguiu, já que Deus escreveu certo por linhas tortas. Eduardo Santos viveu a essência de ser caminhoneiro e sempre que lhe perguntam de seu passado recorda com saudosismo a viagem que fazia para visitar seu representante comercial em São Paulo, quando o pneu do caminhão furou. “Tive de trocá-lo rapidamente, pois tinha horário de atendimento. Corri tanto que lembrei de vestir o paletó mas esqueci de lavar as mãos”, conta, sorridente, lembrando que nesse dia decidiu abrir o jogo com o parceiro e contar-lhe que só tinha um caminhão. Eduardo acredita que ainda exista romantismo na profissão do caminhoneiro, mas con- sidera que atualmente a atividade está cercada de incertezas, tanto profissionais quanto de segurança. “Hoje eu não conseguiria montar a empresa como fiz há 34 anos”, reconhece. Aos 60 anos e prestes a “pendurar as chuteiras”, como ele mesmo diz, Eduardo Santos está transferindo a empresa para seus dois filhos, ambos engenheiros. Aponta que a maior diferença entre ser caminhoneiro autônomo e ser dono de transportadora é a qualidade de vida. “Com um caminhão você tem preocupações, mas consegue ter tempo para sua vida pessoal. Já o empresário tem de abrir mão desse tempo inúmeras vezes”, compara. NO BANCO, MAS DO MOTORISTA O pequeno Laurindo Cordiolli, de apenas 14 anos, avistava o fluxo de caminhões que passavam pela estrada, ao lado da plantação de café de seu pai, em Maringá, no Paraná. Recém-chegado da cidade de Lusitânia, interior paulista, onde havia nascido, o garoto ajudava na roça e, quando tinha qualquer oportunidade, corria para a estrada para ver modelo, motor e tamanho dos caminhões que por lá passavam. O menino acabou ficando craque em marcas e potências de veículos pesados e ali, sem perceber, semeava um grande futuro. Diante das vicissitudes inerentes ao plantio, o obstinado Laurindo pensou em ajudar os pais de outra forma, trabalhando no Banco do Brasil. Aos 17 anos, fez o concurso e conseguiu a primeira colocação. A alegria durou pouco quando o contratante descobriu que o rapaz não possuía diploma da quarta série do ensino fundamental. “Eu tinha de ajudar meus pais na roça e não sobrava tempo para terminar os estudos”, conta, lembrando o tamanho da decepção. “Mas Deus não fecha uma janela sem abrir uma porta”, diz. Justamente por não haver conseguido a va- ga no banco, Laurindo foi trabalhar no armazém de secos e molhados e, em 1956, aos 18 anos, conseguiu tirar sua carteira Donos de grandes transportadoras que eram caminhoneiros de motorista. “Com ela, se abriu um novo caminho”, diz. Primeiro dirigiu um caminhão Ford F600, ano 1954, para o dono do armazém. Em seguida, juntando economias suas e do pai, comprou seu primeiro caminhão, um Mercedes 321, ano 1958. Hoje Cordiolli tem uma coleção de veículos antigos e recentemente conseguiu comprar uma versão idêntica do antigo caminhão. “Às vezes olho pra ele e acho que é o meu daquela época”, revela. Com ele, Laurindo puxou muito forro de pinho para a construção de casas em Brasília (DF), em 1961. A empresa Cordiolli Transportes foi aberta há exatos 40 anos, em 1977. De lá para cá, ele permaneceu por 37 anos no banco, mas como motorista de caminhão, transportando grãos e carga seca. “Sempre gostei da rotina da estrada, fazer entregas, negociar preços e, no fim da jornada, retornar para casa”, relata, lembrando que mesmo na época da inflação era possível contornar as dificuldades. Com um detalhe importante: Laurindo nunca levou uma multa.
Hoje a Cordiolli Transportes é uma das companhias integrantes do G10, de Maringá, opera com 202 caminhões pesados e mantém mais de 400 funcionários na ativa. "Faria tudo de novo se pudesse”, comenta, sem titubear.
Mas para caminhoneiros de primeira viagem, sua mensagem é oposta: “Hoje está tudo mais difícil, a começar pelo financiamento do caminhão. Sem financiamento é praticamente impossível comprar um bom caminhão, a não ser que o indivíduo venda um bem de família, o que não aconselho. Eu nunca vendi nenhum dos meus bens para essa finalidade”, adianta. “Mas se for trabalhador certamente vai conseguir. A vida de caminhoneiro dá dinheiro, pois nunca se trabalha a fundo perdido, o frete estará sempre lá, garantido”, avalia, ainda que há tempos Cordiolli não veja os novos motoristas de caminhão com o perfil de antigamente. “Hoje são profissionais de famílias financeiramente estruturadas, que mal sabem regular um freio, o oposto da minha geração”, diz. ATRÁS DO SONHO Em 1984, ainda estudante de Administração de Empresas na cidade de Juiz de Fora (MG), o então jovem e irrequieto Eduardo dos Santos buscava trabalho para se manter na faculdade. Filho de caminhoneiro e conhecedor desse mercado, começou a fazer pequenas coletas e entregas locais, usando para isso seu próprio fusca e uma bicicleta. À distância, seu pai, Camilo dos Santos Junior, acompanhava o movimento do filho e, em 1984, lhe ofereceu um caminhão Mercedes-Benz 1313, ano 77, para reforçar suas operações. Eduardo topou na hora e conduzindo o veículo iniciou uma bem sucedida jornada no transporte de cargas fracionadas entre a cidade mineira e a capital paulista. Com os dias tomados pela universidade, Eduardo dirigia seu próprio caminhão à noite. Viagem vem, viagem vai, foi aplicando seus conhecimentos acadêmicos nas possibilidades logísticas do trajeto até criar um serviço de coleta e entrega entre as duas cidades em 24 horas, uma grande novidade para a época, que fez as demandas crescerem rapidamente e originarem a empresa Rodoviário Camilo dos Santos Junior. Eduardo Santos conduziu seu próprio caminhão durante um ano e oito meses. Já em 1994, a empresa somava 12 caminhões e atendia 20 municípios da região. O nome homenageia o pai, que também foi caminhoneiro. Com sede em Juiz de Fora (MG), a transportadora tem hoje 220 caminhões, mais de 500 funcionários e movimenta cargas fracionadas por toda a região Sudeste do País, onde se espalham as seis filiais da transportadora. Eduardo admite que parte de seu sucesso profissional se originou de um sonho infantil. Lembra que, ainda criança, adorava sair de copiloto no caminhão do pai e, já adolescente, dirigiu inúmeras vezes o veículo. Também montava e desmontava motores. Seu Camilo, no entanto, fazia de tudo para que seus seis filhos tivessem um futuro melhor que o seu. E conseguiu, já que Deus escreveu certo por linhas tortas. Eduardo Santos viveu a essência de ser caminhoneiro e sempre que lhe perguntam de seu passado recorda com saudosismo a viagem que fazia para visitar seu representante co- mercial em São Paulo, quando o pneu do caminhão furou. “Tive de trocá-lo rapida- mente, pois tinha horário de atendimento. Corri tanto que lembrei de vestir o paletó mas esqueci de lavar as mãos”, conta, sorridente, lembrando que nesse dia decidiu abrir o jogo com o parceiro e contar-lhe que só tinha um caminhão. Eduardo acredita que ainda exista romantismo na profissão do caminhoneiro, mas considera que atualmente a atividade está cercada de incertezas, tanto profissionais quanto de segurança.
“Hoje eu não conseguiria montar a empresa como fiz há 34 anos”, reconhece
Aos 60 anos e prestes a “pendurar as chuteiras”, como ele mesmo diz, Eduardo Santos está transferindo a empresa para seus dois filhos, ambos engenheiros. Aponta que a maior diferença entre ser caminhoneiro autônomo e ser dono de transportadora é a qualidade de vida. “Com um caminhão você tem preocupações, mas consegue ter tempo para sua vida pessoal. Já o empresário tem de abrir mão desse tempo inúmeras vezes”, compara. DEDICAÇÃO, OUSADIA E FÉ O pequeno Laurindo Cordiolli, de apenas 14 anos, avistava o fluxo de caminhões que passavam pela estrada, ao lado da plantação de café de seu pai, em Maringá, no Paraná. Recém-chegado da cidade de Lusitânia, interior paulista, onde havia nascido, o garoto ajudava na roça e, quando tinha qualquer oportunidade, corria para a estrada para ver modelo, motor e tamanho dos caminhões que por lá passavam. O menino acabou ficando craque em marcas e potências de veículos pesados e ali, sem perceber, semeava um grande futuro. Diante das vicissitudes inerentes ao plantio, o obstinado Laurindo pensou em ajudar os pais de outra forma, trabalhando no Banco do Brasil. Aos 17 anos, fez o concurso e conseguiu a primeira colocação. A alegria durou pouco quando o contratante descobriu que o rapaz não possuía diploma da quarta série do ensino fundamental. “Eu tinha de ajudar meus pais na roça e não sobrava tempo para terminar os estudos”, conta, lembrando o tamanho da decepção. “Mas Deus não fecha uma janela sem abrir uma porta”, diz. Justamente por não haver conseguido a vaga no banco, Laurindo foi trabalhar no armazém de secos e molhados e, em 1956, aos 18 anos, conseguiu tirar sua carteira Então, ele desistiu de estudar Engenharia e se dedicou completamente ao transporte. Para isso, agregou-se a uma empresa. Com muito esforço, Márcio juntando economias suas e do pai compraram outro caminhão: um Chevolet baú C60, movido à gasolina. Por outro lado, em frente da quitanda de dona Luiza abriu um enorme sacolão, inviabilizando o seu pequeno negócio. Com tantos contratempos resolveram trabalhar juntos. Agora, pai, mãe e filho estavam unidos não só pelo amor, mas também pelo trabalho. O resultado foi os negócios crescendo. Em 1988, com o auxílio da esposa Eliete Cristina Pecin Silva, noiva na época de Márcio, criariam a Help Transportes Ltda, prestando serviços de transporte e distribuição de carga em geral e devido a solicitação de alguns clientes, com necessidade de transportar equipamentos pesados, em 1991, adquiriram o primeiro guindauto, um MD 6501, montado sobre um caminhão Ford F13000. Hoje, a Help Transportes é uma empre- sa especializada em transportes de máquinas e equipamentos pesados com guindautos de 4 a 100 toneladas/m., empilhadeiras para uso e locação de 2 a 10 toneladas , guindastes telescópicos até 70 toneladas, carretas convencionais extensíveis e pranchas. Contando com uma frota de 18 veículos e sede própria, pessoal altamente especializado em operações de remoções especiais, montagens, transportes e locações. Na empresa também trabalham a terceira geração formada por Aline e Felipe, os filhos de Márcio e Eliete. “Também adoro caminhões e quero seguir os mesmos passos do meu pai e avôs. A Help sempre busca investir em novos equipa- mentos com mais tecnologias e segurança”, diz Aline Pecin Silva. "Os profissionais passam por treinamentos e reciclagens constantes, se atualizando e adequando as mais novas técnicas nacionais e inter- nacionais nos serviços executados, tendo como filosofia a satisfação do cliente como fator principal, adotando com parceiros os nossos fornecedores e nossos funcionários como principais colaboradores pa- ra que alcancem as suas metas.", diz Aline. A Help irá comemorar 30 anos de atividade. Osvaldo da Silva lembra que antigamente já transportou até elefante em cima de um caminhão, anunciando a chegada de um circo no bairro de Veleiros, (SP). “Hoje estou muito realizado. Antigamente, os cami- nhões tinham câmbio seco”, fala emocionado com lágrimas nos olhos e agradece o seu único filho, Márcio, pelo apoio e de ter dado a ideia de se tornarem frotistas. Márcio salienta que a profissão de caminhoneiro é difícil, sobretudo, nos dias atuais. Eles enfrentam criminalidade, marginalização, crise, fretes baixos, não é bem visto nas empresas, se tem trânsito a culpa é do caminhoneiro, se tem um acidente a culpa também é dele”, afinal a corda sempre quebra do lado mais fraco. “Nós subimos um degrau. O nosso sucesso foi por que buscamos a profissionalização e passamos de caminhoneiros a empresários, apesar de se sentirmos ainda caminhoneiros. Está em nossa alma e origem. Todo mundo tem seu lugar ao sol. Recen- temente, um dos nossos caminhoneiros nos procurou pedindo algum conselho para comprar um caminhão e ter o seu próprio negócio e nós incentivamos.
O sucesso não tem receita. É focar naquilo que se faz, gostar do que se faz, levantar cedo e dormir tarde”, diz Márcio Ivan da Silva, lembrando que no início tinham semanas que nem encontrava com o seu pai Osvaldo: ele de um lado transportando e eu do outro, mas valeu a pena”, finaliza.
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