Todo mundo sabe que a situação não está fácil.
Existe uma recuperação da economia. Ainda que muito pequena, é uma esperança. Enquanto a economia não voltar a crescer, o nível de cargas a serem transportadas continuará pequeno. E nesse momento vem a pergunta: aceito um frete mais baixo, ou exijo o que mereço? Bem, se eu não aceitar, o outro aceita e aí eu não pago minhas contas. Mas eu posso fazer essa viagem “rapidinho” e consigo outra com o mesmo cliente. Não é apenas uma questão de tempo, é uma questão de custo mesmo. Você deve analisar a distância, os gastos com combustível, com pedágio e até mesmo o desgaste do caminhão. Afinal, você terá que trocá-lo um dia. Quanto a fazer “rapidinho” é uma atitude irresponsável. O caminhão não é um automóvel. Precisa de uma distância maior para conseguir parar totalmente. Uma vez fora de controle, ele pode causar grandes danos, inclusive mortes. Vale a pena arriscar? Sua vida vale o risco? Há algum tempo vi entre as duas pistas do rodoanel, um bitrem atolado. Uma das carretas estava tombada, a soja no chão e o motorista com “cara de poucos amigos”. Depois de dirigir 12 horas, ele cochilou. O caminhão foi para a esquerda e parou na terra do acostamento. E se fosse uma pista de mão dupla? E se fosse um barranco? No caso específico, a empresa é a maior responsável obrigando os motoristas a cumprirem esse tipo de jornada. E a lei do descanso? Não pegou? Os motoristas continuam sendo explorados por um sistema onde manda quem pode e obedece quem precisa. Qual o número de mortes que são aceitáveis para pedir aos caminhoneiros que cumpram jornadas além do bom senso? Pode parecer um sonho, mas se o motorista se negar a fazer viagens nas quais não consiga ter o descanso necessário, o embarcador terá que ampliar o prazo de entrega. Mas isso só acontecerá se ninguém se submeter a tentar cumprir prazos absurdos. É preciso ter união, é preciso ter conscientização, é preciso saber que caminhoneiro não é peça de reposição: morreu um, tem uma fila para ocupar o lugar. Pode até ocupar o lugar na transportadora, mas não ocupará o seu lugar em sua casa, com sua família. Pense muito bem antes de aceitar um frete que exija esforços além do que você pode fazer. Assim como seu caminhão, o corpo humano tem uma vida útil que pode ser encurtada caso não receba os cuidados necessários. Pense em você, na sua família. Não vale a pena se arriscar nas estradas para dar lucro a uma empresa que não dá o devido valor ao seu funcionário.
Texto: Francisco Reis