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Você sabia? Entenda por que os caminhões DAF dominam as estradas do Suriname

Por Equipe RC em 05/02/2024 às 19:52
Você sabia? Entenda por que os caminhões DAF dominam as estradas do Suriname

Esta matéria foi escrita baseada em um arquivo histórico.

Na edição nº 122 da revista Caminhoneiro, de dezembro de 1996, a reportagem especial que estampava a capa trazia detalhes e curiosidades sobre as estradas, cargas, caminhões e caminhoneiros de países “escondidos” da América do Sul, entre eles, o Suriname. Confira na íntegra.

Antes de publicarmos a matéria veiculada na época, é importante entendermos o contexto histórico que cerca a história deste país tão pouco falado no Brasil. 

Atualmente chamado de República do Suriname, é o menor país da América do Sul e fica localizado ao norte do continente, tendo como vizinhos a Guiana Francesa, Guiana e o Brasil. 

O Suriname foi colonizado no final do século XVII pelos holandeses, domínio este que perdurou até 1975, quando o Suriname deixou o Reino dos Países Baixos para se tornar um estado independente. É aqui que a nossa história começa a fazer sentido. Isso porque, por conta do longo período de colonização, mesmo após a sua independência, laços estreitos de caráter econômico, diplomático e cultural, foram mantidos com seu antigo colonizador. E, se você decidiu ler esta matéria, provavelmente sabe qual a nacionalidade da marca DAF, certo? Isso mesmo, holandesa.
 

Não temos registros de quando, ao certo, os caminhões DAF chegaram ao Suriname. Entretanto, o fato curioso que nos levou a republicar esta matéria, além de conhecer a cultura e mercado de transportes de outro país, é de que, como e por que a marca já estava presente em um país tão pequeno - e irrelevante - tantos anos antes de chegar ao maior país da América do Sul?

Agora, com essa “pulga atrás da orelha” e os fatos históricos em mente, você já está pronto para mergulhar em uma viagem no tempo e conhecer um pouco mais do transporte rodoviário neste país tão exótico.

Confira a matéria de 1996 na íntegra:


Capa da edição nº 122 da revista Caminhoneiro

Vizinho do Brasil, o Suriname raramente aparece nos jornais, revistas, tevês. Só quando por exemplo, um nadador da categoria de Anthony Nesty surpreende o  mundo, como o fez nas Olimpíadas de Seul, e fatura a medalha dos 100 metros nado borboleta. E quando em Macapá e Belém, pousa ou decola um avião da Surinam Airways.

O domínio holandês acabou oficialmente em 1975, com a independência do país, e daí para diante se deu o retorno de milhares de trabalhadores qualificados para a Holanda. Ficaram de herança a língua holandesa, o estilo de boa parte da arquitetura, muitos descendentes de europeus de pele clara e olhos azuis e, no mundo estradeiro, o predomínio total dos caminhões DAF, marca da terra das tulipas e dos moinhos que anunciou a chegada ao Brasil em 1995, mas congelou seus planos.

Benny Vyent é exemplo de caminhoneiro bem-sucedido. Com 38 anos, dos quais 20 passou dirigindo, possui sete caminhões. Um é Mercedes. Os outros? DAF, é lógico. Ele faz tudo em mecânica, inclusive desmonta motores, tem irmão e primo caminhoneiros. Transporta pedras, madeira, terra pelas estradas surinamesas. Queixa- se mais dos buracos, que, comparados aos das rodovias federais brasileiras, são bem poucos.


Fotos da capital Paramaribo

Igualmente trabalha com DAF, na cidade de 192 mil habitantes chamada Paramaribo, capital do Suriname, o caminhoneiro Soender Chattri. Nascido no país, de origem indiana, casado, pai de seis filhos, ele fica, de segunda a sexta e nos sábados pela manhã, na rua Dr. Sophie Redmond. Ali estacionam muitos profissionais, à espera de serviço. Podem transportar cargas e pessoas, em veículos para 1 ou  2 toneladas, ou, nos maiores, até 10t. Aos 50 anos, dos quais 20 com caminhão, Chattri revela que cobra por trajeto de uma hora, carga de 8 a 10t, de 35 mil a 40 mil guilden (aproximadamente 100 reais).

‘'É um trabalho duro, mas a gente vai para onde quiser'' destaca, ao lado de vários companheiros de jornada. Ele acredita que uns oitenta fiquem à espera de carga todos os dias. Bem perto dali saem as vans Toyota, Nissan, Mitsubishi, que, com 8, 10, 15 ou mais lugares, funcionam como ônibus para várias partes do Suriname. De Parbo, que é como se chama Paramaribo em sua forma curta, até a segunda cidade surinamesa Nieuw-Nickerie, no extremo oeste, são quatro horas de viagem por rodovia asfaltada, de pista única. Novidade: a mão invertida.

Dirigir, certamente, é uma arte nas estradas do Suriname. Os motoristas, especialmente das vans, “costuram”, invadem a outra pista, para manter a velocidade constante. Os postos são pequenos, poucas bombas. Nem de longe a lembrança dos festivos pontos de encontro do Brasil. Sinalização? Precária. Transporte difícil para os habitantes. Vê-se gente, com frequência, viajando em carroçarias abertas. Acostamento é no mato, pode-se dizer. Às vezes, o caminho corta mata quase fechada; às vezes, vilarejos. Poucos serviços. Manutenção complicada para os veículos.


Caminhoneiro surinamês Benny Vyent

Os grandes rios amazônicos constituem outro problema. De Paramaribo a Nickerie, toca atravessar o Coppename, de ferryboat. Soeniel Noermohamed, caminhoneiro há oito anos, faz essa rota todo dia num Mitsubishi Canter, levando tevês, uísque e outros produtos. Ao todo, 2,5 toneladas. Aliás, há muito Mitsubishi carregando alimentos, Kia 3500 S transportando a Parbo Bier, cerveja local, enfim, quantidade respeitável de caminhões leves.

Vencido o rio Coppename, a pista melhora, nova, sinalizada. DAF e mais DAF, modelos diversos dos velhos aos novos, o 2100, 2300, 2800. Atravessa-se Coronie, na região maior produtora de cocos, e vêem-se muitas casas construídas sobre pilotis, suspensas, em função dos meses de chuva intensa (abril a julho). Começam a aparecer enormes plantações de arroz, perto de Wageningen. O país o exporta para Europa e América. Nessa parte, mais rica economicamente, boa produção agrícola, milho, bananas e boiadas... Moradores oferecem peixes recém-pescados a quem passa pela estrada.

Se o Brasil já se orgulha de ser palco de bela mestiçagem, de indígenas, europeus e negros, o que dizer do Suriname? Ao longo de sua história, além dos ameríndios, holandeses e escravos africanos, foram importados trabalhadores da Índia, de Java, vieram chineses... Ali, agora, há uma babel de raças, línguas (holandês, hindustani, javanês, inglês), religiões (cristianismo, hinduísmo, islamismo). Mesquitas com suas torres imponentes são constantes na paisagem e se revelam algo estranho na América do Sul tão cristã.

O país, comprovam brasileiros com filhos lá, se preocupa muito com educação. Há só 5% de analfabetos. Hoje, é um dos grandes produtores mundiais de bauxita (matéria-prima para produzir alumínio). Desde a independência, porém, golpes de estado. Guerrilhas, acusações de envolvimento de líderes com o narcotráfico e a possibilidade de conflitos étnicos entre indianos, negros, javaneses, holandeses causaram certa instabilidade.

Para os brasileiros, contudo, esse país de quase 164 mil quilômetros quadrados e 417 mil habitantes é outro ponto de atração. Comerciantes vão ao Brasil comprar e vender coisas, gente em busca de trabalho, como garimpeiros e as inevitáveis garotas de programa, para as boates ou os garimpas. Todos atrás do dinheiro mais farto.

Dias atuais

Em nossas pesquisas, não encontramos dados de como está o mercado, infraestrutura e os caminhoneiros naquele país. Entretanto, encontramos registros do cinegrafista de caminhões holandês Victor Bart, que esteve no Suriname em 2017 e, para a nossa felicidade, gravou diversos veículos que circulam nas estradas de lá. Confira seu relato:

Este filme é sobre caminhões no Suriname. Em julho de 2017, fui a este país em uma viagem em grupo e filmei esse vídeo enquanto viajava. O Suriname fica na parte norte da América do Sul. Muitos caminhões são DAF. Você vê muitos CF e também os antigos caminhões 1900, 2100, 2300, 2500 e 2700! Divirta-se assistindo!

Clique aqui e assista ao vídeo.


Registro de Victor Bart: caminhões DAF circulando pelo Suriname em 2017

Ah, e se você gosta de arquivos históricos, clique aqui e veja mais conteúdos

Imagens: Acervo Revista Caminhoneiro

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